28 de março de 2014

London 7.







Domingo. Entrámos na Westminster Cathedral a meio de uma missa, o que me deixa sempre sem jeito. Sinto que estou a devassar território que não me pertence. Gosto muito mais de igrejas vazias, é nelas que me sinto mais próxima de uma presença divina, de uma qualquer energia superior a todos nós, seja lá qual for o nome que lhe damos. A minha educação católica deixou-me com mais perguntas do que respostas e, hoje em dia, vivo a (minha) fé de uma forma muito particular - é, sobretudo, fora do espaço físico das igrejas ou outros locais sagrados que encontro sinais da existência dessa energia e respostas para as minhas dúvidas. 
Naquela manhã, no entanto, senti-me reconfortada com a voz melodiosa do padre durante a homilia, uma voz serena e segura, com uma alegria cativante, embora discreta. Acendi uma vela, percorremos uma das alas para melhor observarmos o altar central, deixámo-nos estar um pouco encostadas a umas colunas e depois saímos de novo para o frio, com o coração um pouco mais cheio. 
Caminhámos a distância entre a catedral católica e abadia protestante, uma caminhada alegre apesar da chuva e do céu cinzento que nos acompanhava desde manhã cedo. Não conseguimos entrar na abadia, devido ao serviço religioso que decorria na altura, o que nos fez questionar as portas abertas da catedral durante a missa, para quem quisesse entrar, mesmo que isso perturbe a cerimónia. Não chegamos a nenhuma conclusão, contudo.
Tirámos a fotografia da praxe (muitas, para ser mais específica) junto à Elizabeth Tower, que alberga o Big Ben - o sino do relógio, que na realidade só se ouve e não se vê por fora (sinto muito se estou a desiludir alguém!). Rapámos um frio insuportável em cima da Westminster Bridge, a bem da busca por uma boa fotografia do palácio, de um lado, e do London Eye, do outro. Juntámo-nos às centenas de turistas que resistiam à chuva e também nos enquadramos com os monumentos, numa série de fotografias para mais tarde recordar. 
A par das cenas que fizemos frente ao Buckingham Palace à procura do melhor ângulo para conseguir pôr no mesmo plano o dito cujo, a bandeira esvoaçante e duas palhaças (eu própria e a Pequenina, à vez), aquela manhã foi o nosso momento mais turistinha. Permitirmo-nos isso foi uma das decisões mais acertadas, valeu uns narizes e uns dedos enregelados, mas também muitas gargalhadas. 

27 de março de 2014

O Tell Me The Truth About Love.

Some say love's a little boy,
And some say it's a bird,
Some say it makes the world go around,
Some say that's absurd,
And when I asked the man next-door,
Who looked as if he knew,
His wife got very cross indeed,
And said it wouldn't do.

Does it look like a pair of pyjamas,
Or the ham in a temperance hotel?
Does its odour remind one of llamas,
Or has it a comforting smell?
Is it prickly to touch as a hedge is,
Or soft as eiderdown fluff?
Is it sharp or quite smooth at the edges?
O tell me the truth about love.

Our history books refer to it
In cryptic little notes,
It's quite a common topic on
The Transatlantic boats;
I've found the subject mentioned in
Accounts of suicides,
And even seen it scribbled on
The backs of railway guides.

Does it howl like a hungry Alsatian,
Or boom like a military band?
Could one give a first-rate imitation
On a saw or a Steinway Grand?
Is its singing at parties a riot?
Does it only like Classical stuff?
Will it stop when one wants to be quiet?
O tell me the truth about love.

I looked inside the summer-house;
It wasn't over there;
I tried the Thames at Maidenhead,
And Brighton's bracing air.
I don't know what the blackbird sang,
Or what the tulip said;
But it wasn't in the chicken-run,
Or underneath the bed.

Can it pull extraordinary faces?
Is it usually sick on a swing?
Does it spend all its time at the races,
or fiddling with pieces of string?
Has it views of its own about money?
Does it think Patriotism enough?
Are its stories vulgar but funny?
O tell me the truth about love.

When it comes, will it come without warning
Just as I'm picking my nose?
Will it knock on my door in the morning,
Or tread in the bus on my toes?
Will it come like a change in the weather?
Will its greeting be courteous or rough?
Will it alter my life altogether?
O tell me the truth about love. 

26 de março de 2014

Esta versión me encanta.

Porque há cidades que nos abraçam.











Roma - 2010

Há dias em que acordo com a sensação de estar aí. Ouço os comboios a passar atrás da Luigi Ceci e as ambulâncias a subir e a descer desenfreadamente a Circonvallazione Gianicolense. Quase que sinto os passos da vizinha de cima e o rádio sempre a tocar. Depois caio em mim e a nostalgia invade-me a realidade. 

Sinto-te a falta mais do que nunca. Sinto falta das tuas ruas, das tuas cores, dos teus cheiros e das tuas gentes. Sinto falta de todos aqueles pormenores que eu fingia serem só meus e em que mais ninguém reparava. Sinto falta de Trastevere, de serpentear o rio a caminho de casa. Sinto falta das tuas praças e da água das tuas fontes, que eu gosto de beber mesmo quando não tenho sede. Sinto falta do teu reboliço e da tua calma. Sinto falta da tua sabedoria eterna. Sinto falta dos teus conselhos sussurrados através de cada pedra, de cada estátua. Sinto falta do teu abraço - tu, que serás para sempre sinónimo de colo. A cada regresso retorno a casa, deixando-te um pouco do meu coração a cada partida.

25 de março de 2014

Abrunhosa por Bethânia.



De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado,
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado,
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta,
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?

Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam,
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acesos.
Marinheiros perdidos em portos distantes,
Em bares escondidos,
Em sonhos gigantes.
E a cidade vazia,
Da cor do asfalto,
E alguém me pedia que cantasse mais alto.
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
Em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta.
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada
- letra&música de Pedro Abrunhosa -

24 de março de 2014

London 6.






Não foi uma decisão fácil, a de deixar os museus de fora dos nossos dias em Londres. Quatro dias incompletos (três, no meu caso, pois um dia foi passado em entrevistas e provas) não chegam para tudo e, por isso, tivemos que fazer uma escolha difícil e optamos por andar o mais que conseguíssemos pela cidade, sentir-lhe o pulso, apreciar a arquitectura, os monumentos, o congestionamento calculado do trânsito, o fluir das suas gentes, os parques, a forma como a urbe se organiza - os museus, as galerias de arte e o interior de alguns monumentos que gostaríamos de visitar tiveram que ficar para uma próxima vez e isso só nos dá ainda mais alento para lá voltarmos em breve. 
A única excepção? O Museu de História Natural e os seus dinossauros, entre outras coisas (coisas essas que também ficaram para uma nova visita à cidade), numa visita relâmpago. O motivo é simples e bastante pessoal, pelo que vale o vale: quando era miúda, teria aí uns seis ou sete anos, o meu primo João, o meu primo mais próximo em idade, foi a Londres de férias com os pais e o irmão. O David, pai do João, é inglês, férias em Inglaterra eram normais para eles e uma excitação para os restantes primos, pelas aventuras que sempre traziam para contar no regresso. Nesse ano, em particular, o João trazia histórias fantásticas e livros a comprovarem-nas. Uma delas era o relato da visita ao Museu de História Natural e o livro em 3D dos dinossauros, alusivo à exposição permanente dos esqueletos, fósseis e demais particularidades do referido animal. Eu, que à época queria ser arqueóloga e andava fascinada pelos Tiranossauros e companhia, vidrei no livro, que folheei vezes sem conta. Para além disso, o David tem uma maneira muito especial e pormenorizada de contar histórias, que me cativa ainda hoje. Talvez o sotaque very british que nunca perdeu seja parte do charme, assim como os detalhes que só ele parece conseguir observar. 
A verdade é que aquela ida ao Museu ficou para sempre gravada nas minhas memórias de infância como uma aventura inesquecível e sempre soube que na primeira vez que pisasse solo londrino iria recriá-la à minha maneira - assim foi: um sorriso de orelha a orelha, um brilho infantil no olhar e um uauuu despudorado mal pus os pés no átrio e me vi de caras com o primeiro esqueleto gigante. Ali, à minha frente. Valeu a pena a espera e sim, é muito bom de vez em quando deixar sair a criança que há em nós. É revigorante.

...

Spring is like a perhaps hand
(which comes carefully
out of Nowhere) arranging
a window, into which people look (while
people stare
arranging and changing placing
carefully there a strange
thing and a known thing here) and

changing everything carefully

spring is like a perhaps
Hand in a window
(carefully to
and from moving New and
Old things,while
people stare carefully
moving a perhaps
fraction of flower here placing
an inch of air there) and

without breaking anything.

- E. E. Cummings -