25 de abril de 2008

Bolacha Maria (5)

A Mari e o Mundo dos Brinquedos*

A Mari estava no seu quarto a brincar com os seus peluches e bonecas e também com os seus quadros falsos. A Pequenina também lá estava, pois tinha vindo fazer uma visita. Até que a Ana, a mãe da Mari, as chamou para irem almoçar. Aí, os bonecos desapareceram!
Quando a Mari regressou ao quarto assustou-se, mas depois lembrou-se de uma coisa. Então foi perguntar ao seu irmão Pedro e ele respondeu:
- Não, não vi. Se calhar foi a Tessa!
- Pois, mas como pode ter sido a Tessa se ela também estava a almoçar?, perguntou a Pequenina.
Depois, a Mari resolveu ir outra vez para o quarto e aí viu só um peluche e ele disse:
- Olá! Olha, os outros peluches foram para o Mundo dos Brinquedos!
A Mari, surpreendida, disse:
-Tu, tu, tu falas?!
- Sim, falo...porquê?, perguntou o peluche.
- Po, po, po, por nada..., gaguejou a Mari.
- Ah!, mas olha, queres que eu te ensine o caminho para o Mundo dos Brinquedos?
- Sim, quero!
- Então anda daí!
E assim foi, lá foi o peluche de mão dada com a Mari e a Pequenina para o Mundo dos Brinquedos.

Para a Mari Coelho e para a Pequenina e toda a família com um grande beijinho da Maria.

*Maria Machado, 8 anos.

23 de abril de 2008

22 de abril de 2008

Acordo (II)

«Depois do Ortográfico talvez não fosse má ideia assinar um Acordo Gastronómico com o Brasil.Um acordo que pusesse o azeite de oliveira em concórdia com o azeite de dendê, ou óleo de dendê. Que dá pelo nome latino de Elaeais guineensis Jaquim, e descende de palmeira do Golfo da Guiné. Imaginem as possibilidades semânticas, fonéticas e ortográficas de jaquinzinhos fritos em óleo de Jaquim. O azeite de dendê é a base da comida baiana e os estômagos fracos e que não apreciem batuque e tambores, sol e mar, candomblé e búzios, mulatos e crioulos, devem evitar a Bahia-de-Todos-os-Santos. A todos os outros: Sorria, você está na Bahia. Sorrir é a actividade principal de Salvador. E a única e indispensável introdução à comida baiana e ao azeite de dendê tem de ser feita através do Sorriso da Dadá.
O Sorriso da Dadá é um restaurante, ou melhor, são vários restaurantes, todos da Dadá. A Dadá, que faz uma cozinha baiana à base de dendê (o óleo mais produzido e consumido no mundo), é a chamada lenda viva.(...)
O restaurante mais fino da Dadá é o do Pelourinho, o Pelô, onde já comeram Hillary Clinton e o musical ministro Gil e onde ela serve umas moquecas variadas que incluem a minha favorita, siri catado com pitu. Digam comigo: "Ir na Dadá do Pelô comer uma moqueca de siri mole catado com pitu." Pornográfico. A comida é pornograficamente deliciosa. O restaurante menos fino da Dadá, e o mais verdadeiro, é o da favela, que fica no bairro da Federação.(...)
Não se pode ir a Salvador sem a Dadá e sem o dendê. Na rua, o menino chama um táxi e a favela não tem perigo para cliente dadá. Comida dos deuses, e não só de Iansã. Depois deste jantar, pode esticar o pernil em todos os sentidos, ou na cama, roncando, ou nos botecos, dançando. E sorria. Você está na Bahia. Acordemos pois.»

- Clara Ferreira Alves, aqui.

Acordo (I)

«(...)Já tive ocasião de explicar, com larga cópia de exemplos, que nada me moveria contra o Acordo se, de facto, ele acordasse alguma coisa.(...)

É precisamente porque amo a riqueza extraordinária da Língua Portuguesa, e o que as suas variantes africanas e brasileiras lhe acrescentam (porque há tantas variantes dentro do Brasil como nos países africanos de expressão portuguesa) que, à partida, me desgosta a ideia burocrática de um acordo. Se pelo menos o Acordo servisse para unificar a aprendizagem da Língua, e assim tornar igualmente acessíveis e programáticos, para as crianças das escolas, os escritores dos vários países, poderia julgá-lo útil. Mas o Acordo prevê que se mantenham as diferenças ortográficas correspondentes à "pronúncia culta" (seja lá isso o que for) de cada país. Trocando em miúdos: as grafias manter-se-ão distintas. Mais próximas, mas suficientemente distintas para tornar impossível a criação de manuais escolares universais, dentro do mundo da língua portuguesa. Até porque as diferenças abissais não são ortográficas - mas gramaticais e semânticas. O argumento da unificação da Língua para efeitos de papeladas oficiosas internacionais não colhe, por estes mesmos motivos. E que diferença faz que um documento internacional seja escrito numa qualquer variante do português? Todos entendemos a escrita do cabo-verdiano Germano Almeida, do brasileiro Ruben da Fonseca, do moçambicano Mia Couto ou do angolano Pepetela.(...)»

- Inês Pedrosa, aqui.