25 de abril de 2008
Bolacha Maria (5)
23 de abril de 2008
22 de abril de 2008
Acordo (II)
O Sorriso da Dadá é um restaurante, ou melhor, são vários restaurantes, todos da Dadá. A Dadá, que faz uma cozinha baiana à base de dendê (o óleo mais produzido e consumido no mundo), é a chamada lenda viva.(...)
O restaurante mais fino da Dadá é o do Pelourinho, o Pelô, onde já comeram Hillary Clinton e o musical ministro Gil e onde ela serve umas moquecas variadas que incluem a minha favorita, siri catado com pitu. Digam comigo: "Ir na Dadá do Pelô comer uma moqueca de siri mole catado com pitu." Pornográfico. A comida é pornograficamente deliciosa. O restaurante menos fino da Dadá, e o mais verdadeiro, é o da favela, que fica no bairro da Federação.(...)
Não se pode ir a Salvador sem a Dadá e sem o dendê. Na rua, o menino chama um táxi e a favela não tem perigo para cliente dadá. Comida dos deuses, e não só de Iansã. Depois deste jantar, pode esticar o pernil em todos os sentidos, ou na cama, roncando, ou nos botecos, dançando. E sorria. Você está na Bahia. Acordemos pois.»
- Clara Ferreira Alves, aqui.
Acordo (I)
«(...)Já tive ocasião de explicar, com larga cópia de exemplos, que nada me moveria contra o Acordo se, de facto, ele acordasse alguma coisa.(...)
É precisamente porque amo a riqueza extraordinária da Língua Portuguesa, e o que as suas variantes africanas e brasileiras lhe acrescentam (porque há tantas variantes dentro do Brasil como nos países africanos de expressão portuguesa) que, à partida, me desgosta a ideia burocrática de um acordo. Se pelo menos o Acordo servisse para unificar a aprendizagem da Língua, e assim tornar igualmente acessíveis e programáticos, para as crianças das escolas, os escritores dos vários países, poderia julgá-lo útil. Mas o Acordo prevê que se mantenham as diferenças ortográficas correspondentes à "pronúncia culta" (seja lá isso o que for) de cada país. Trocando em miúdos: as grafias manter-se-ão distintas. Mais próximas, mas suficientemente distintas para tornar impossível a criação de manuais escolares universais, dentro do mundo da língua portuguesa. Até porque as diferenças abissais não são ortográficas - mas gramaticais e semânticas. O argumento da unificação da Língua para efeitos de papeladas oficiosas internacionais não colhe, por estes mesmos motivos. E que diferença faz que um documento internacional seja escrito numa qualquer variante do português? Todos entendemos a escrita do cabo-verdiano Germano Almeida, do brasileiro Ruben da Fonseca, do moçambicano Mia Couto ou do angolano Pepetela.(...)»
- Inês Pedrosa, aqui.