13 de novembro de 2009

Morning shots


Todo em ti fue naufragio!

Emerge tu recuerdo de la noche em que estoy.
El rio anuda ao mar su lamento obstinado.

Abandonado como los muelles en el alba.
Es la hora de partir, oh abandonado!

Sobre my corazón llueven frias corolas.
Oh sentina de escombros, feroz cueva de náufragos!

En ti se acumularon las guerras e los vuelos.
De ti alzaron las alas los pájaros del canto.

Todo te lo tragaste, como la lejanía.
Como el mar, como el tiempo. Todo em ti fue naufragio!

Era la alegre hora del asalto y el beso.
La hora del estupor que ardía como un faro.

Ansiedad de piloto, furia de buzo ciego,
turbia embriaguez de amor, todo en ti fue naufragio!

Hice retroceder la la muralla de sombra,
anduve más allá del deseo y del acto.

Oh carne, carne mia, mujer que amé y perdí,
a ti en esta hora húmeda, evoco y hago canto.

Como un vaso albergaste la infinita ternura,
y el infinito olvido te trizó como a un vaso.

Era la negra, negra soledad de las islas,
y allí, mujer de amor, me acogieron tus brazos.

Era la sed y el hambre, y tú fuiste la fruta.
Era el duelo y las ruinas, y tu fuiste el milagro.

Ah mujer, no sé como pudiste contenerme
en la tierra de tu alma, y en la cruz de tus brazos!

Mi deseo de ti fue el más terrible y corto,
el más revuelto y ebrio, el más tirante y ávido.

Cementerio de besos, aún hay fuego en tus tumbas,
aún los racimos arden picoteados de de pájaros.

Oh la boca mordida, oh los besados miembros,
oh los hambrientos dientes, los cuerpos trenzados.

Oh la cópula loca de esperança y esfuerzo
en que nos anudamos y nos desesperamos.

Y la ternura , leve como el agua y la harina
y la palabra apenas comenzada en los labios.

Ése fue mi destino y en él viajó mi anhelo,
y en él cayó mi anhelo, todo en ti fue naufragio!

De tumbo en tumbo aún llameaste y cantaste
de pie como um marino en la proa de un barco.

Aún floreciste en cantos, aún rompiste en corrientes.
Oh sentina de escombros, pozo abierto y amargo.

Pálido buzo ciego, desventurado hondero,
descubridor perdido, todo en ti fué naufragio!

Es la hora de partir, la dura y fría hora
que la noche sujeta a todo horario.

El cinturón ruidoso del mar ciñe la costa.
Surgen frías estrellas, emigran negros pájaros.

Abandonado como los muelles en el alba.
Sólo la sombra trémula se retuerce em mis manos.

Ah más allá de todo. Ah más allá de todo.

Es la hora de partir. Oh abandonado!

- Pablo Neruda -

Cá está!

12 de novembro de 2009

À hora em que os cisnes cantam...

Nem palavras de adeus, nem gestos de abandono.
Nenhuma explicação. Silêncio. Morte. Ausência.
O ópio do luar banhando os meus olhos de sono...
Benevolência. Inconsequência. Inexistência.

Paz dos que não têm fé, nem carinho, nem dono...
Todo o perdão divino e a divina clemência!
Oiro que cai dos céus pelos frios do outono...
Esmola que faz bem... - nem gestos, nem violência...

Nem palavras.Nem choro. A mudez. Pensativas
abstrações. Vão temor de saber. Lento, lento
volver de olhos, em torno, augurais e espectrais...

Todas as negações. Todas as negativas.
Ódio? Amor? Ele? Tu? Sim? Não? Riso? Lamento?
- Nenhum mais. Ninguém mais. Nada mais. Nunca mais...

- Cecília Meireles -

Das palavras...


No sueltes la soga que me ata a tu alma...



Wind sweeps the road, you can not go back.

10 de novembro de 2009

DOIS


Estas fotografias têm exactamente dois anos... dois anos completamente transformadores, em muitos sentidos. Nenhuma de nós poderia sequer imaginar o que se passaria após aquele primeiro abraço em Coimbra-B. Nunca uma mentira nos soube tão bem, logo a nós, que detestamos mentiras e não suportamos que nos faltem à verdade.


Dizer o que sinto por ti, o que somos juntas, não é algo que caiba em meia dúzia de linhas num espaço como este. De resto, tu sabes o que nos une e nos torna especiais. 
Porque és minha irmã, mesmo sem partilhares comigo nenhuma herança genética; és parte de mim mesma, mesmo sem que eu o saiba explicar como ou porquê; és a minha Pequenina (e serás sempre!), mesmo que já me dês boleias para o Estoril e partilhes comigo caipirinhas noite dentro...
Sei que somos para sempre em momentos como aqueles em que me dizes do nada, "vou fazer tantas festinhas na tua barriga quando estiveres grávida da Maria do Mar...ou do Vicente!", e eu te olho nos olhos antevendo uma madrinha babada que me vai mimar os putos até dizer chega e dar mais trabalho do que eles todos juntos. Ou quando atrofiamos uma com a outra (ou tu comigo?!) e logo a seguir estamos a mandar mensagens ou a ter conversas por telefone daquelas que o nosso tarifário corta sempre a meio, por invariavelmente estarmos mais de uma hora a dar à língua, a repetirmo-nos até à exaustão, por sermos ambas tão parecidas que até dói.
A Cerejinha tinha razão. Ninguém que nunca se viu antes se abraça daquela forma...mas nós sempre fizemos parte uma da outra, de uma forma inexplicavelmente visceral e autêntica. Por isso é que cada abraço é sempre um regresso a casa, a um porto seguro onde tudo é possível.

Sabes que o que diz naquela minha camisola da sorte é cada vez mais verdade, my person...e que o que temos vivido nestes últimos dois anos é apenas o começo de muitas noites dormidas de mãos dadas, de batatas fritas com ketchup às 4 horas da madrugada, de conversas infindáveis e completamente toilas que só nós podemos ter, de sessões de fotografia ao acordar, de boleias de carro, de dias inteiros juntas onde o tempo pára e voa ao mesmo, de gelados caseiros com sobremesa do Di, de filmes e mais filmes, de trabalhos divididos, de viagens e planos e sonhos e projectos...porque estamos juntas neste filme que é a vida, minha super produtora, para sempre...no matter what!!!

Love you sis*

9 de novembro de 2009

No crepúscolo da vida...

há-de flutuar uma cidade no crepúscolo da vida 
pensava eu... como seriam felizes as mulheres 
à beira mar debruçadas para a luz caiada 
remendando o pano das velas espiando o mar 
e a longitude do amor embarcado 

por vezes 
uma gaivota pousava nas águas 
outras era o sol que cegava 
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite 
os dias lentíssimos... sem ninguém 

e nunca me disseram o nome daquele oceano 
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas 
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua 
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar 
se espantasse com a minha solidão 

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.) 

um dia houve 
que nunca mais avistei cidades crepusculares 
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta 
inclino-me de novo para o pano deste século 
recomeço a bordar ou a dormir 
tanto faz 
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade 

- Al Berto -

Berliner Mauer






Há 20 anos atrás vivia um dos dias mais felizes e emocionantes da minha vida. 
Talvez os meus 9 anos não fossem ainda suficientes para alcançar na totalidade a magnitude daquele acontecimento, mas as comemorações no Colégio, os rostos sorridentes e a sensação de alívio e de liberdade que se viveu naquele dia, fazem parte das minhas memórias mais marcantes.
Três anos mais tarde visitei Berlim pela primeira vez e as sensações vividas naquele 9 de Novembro de 1989 estavam completamente à flor da pele. Juntamente com o meu irmão, e munidos com um canivete suíço, escavacamos o muro em busca de uma recordação palpável daquele momento e de tudo o que tínhamos vivido...
Acima de tudo, queríamos uma prova, algo concreto que nos lembrasse para sempre as milhares de pessoas que viram as suas vidas afectadas, condicionadas e destruídas por aquele que será sempre um dos muros mais vergonhosos da História da Humanidade.