2 de novembro de 2007

O amor...

Plano

Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

- Nuno Júdice -

Te hecho de menos...



Para ti, porque apesar de stressares comigo em plena madrugada, já sinto a tua falta...

Sinto falta do teu mau-humor matinal, dos teus vipes, das jantaradas, da cozinha dessarumada, da cama por fazer, da música em altos berros, do Soldadito Marinero em repeat, dos teus atrasos, do Acorda-me daqui a 5 minutinhos, das preocupações conjuntas, das nossas conversas e até das nossas discussões, de passar o tempo todo a dizer Pedro, por favor, despacha-te, da biblioteca que deixas sempre no quarto-de-banho e que eu tenho que arrumar, de fazeres exactamente o contrário daquilo que eu te digo, depois de teres pedido a minha opinião, de te despenteares durante horas frente ao espelho, de te ouvir falar sobre vinhos, cozinha e todas as tuas outras paixões, de me mostrares vezes sem conta as mesmas fotografias e fazeres exactamente os mesmos comentários, de me fazeres dobrar camisas, calças e T-shirts madrugada dentro, de stressar contigo por ainda não teres a mala pronta...enfim, de te ter aqui, simplesmente!

E porque me fizeste chorar a rir com os teus comentários durante o Sem Reserva e me emocionaste ao recordares os tempos do Trinca-Espinhas, onde esta música era tocada frequentemente, deixo-te aqui a Viene via con me, do inconfundível Paolo Conte, que ambos adoramos.

Boa sorte nesta tua nova aventura, meu Pedrito, El Mariachi... e não te esqueças de ser feliz!*

31 de outubro de 2007

Aquele abraço...



Porque os abraços ganharam uma dimensão real e palpável...
Porque nos esquecemos de ser tímidas e parece que nos conhecemos desde sempre...
Porque quando acordamos somos insuportáveis, ou até mesmo impossíveis e estúpidas...
Porque tudo o que pique nós não gostamos...
Porque há pessoas do Porto que até são boas pessoas...
Porque nós, definitivamente, não temos ligações a essas cenas...
Porque há uma de nós que é a mais alta de todas...
Porque quando estamos nervosas gostamos de andar de um lado para o outro e não ficarmos paradas no mesmo sítio...
Porque quando nos perguntam, O que é que voçês querem comer?, nós respondemos: Comida!!!...
Porque, por momentos nos pareceu ver o Santiago, quando, na carruagem do Metro, ouviamos a "Eu estou aqui!"...
Porque às vezes nós somos muito cocozinhas...
Porque somos todas loucas e é a mais pura verdade...
Porque, Carago, veio tudo atrás de nós.Temos mel!...
Porque ficamos sóbrias depois de beber café...
Porque somos reguilas na cama...Salvo seja!!!...
Porque crianças, crianças, mas nós gostamos...
Porque há entre nós pitas muito evoluídas...
Porque às tantas, alguém nos coisou... (estas quatro frases seguidas ficam LINDAS!!!)
Porque nós só queremos que alguém nos atire contra a parede e nos chame de lagartixa...
Porque agora só me apetece perguntar: Já se leram?!...
Porque, não é só ao acordar, nós somos sempre impossíveis!

Porque eu gosto mais de voçês do que de chocolate, deixo-vos aqui um abraço, para compensar aquele que certas meninas me ficaram a dever no Domingo... ah, mas não se livram de ter que me ressarcir com mais uns abracinhos um dia destes, e com juros!

E porque foi bom demais ter-vos a todas
à minha beira, fico ansiosamente à espera de uma repetição!

Até já...GMDV, Mar*

30 de outubro de 2007

Não sei que te dirão num futuro mais perto...

Sleep, de F. Goya (detalhe)

Um pouco só de Goya: carta a minha filha*

Lembras-te de dizer que a vida era uma fila?
Eras pequena e o cabelo mais claro,
mas os olhos: iguais. Na metáfora dada
pela infância, perguntavas do espanto
da morte e do nascer, e de quem se seguia
e porque se seguia, ou da total ausência
de razão nessa cadeia em sonho de novelo.

Hoje, nesta noite tão quente rompendo-se
de junho, o teu cabelo claro mais escuro,
queria contar-te que a vida é também isso:
uma fila no espaço, uma fila no tempo,
e que o teu tempo ao meu se seguirá.
Num estilo que gostava, esse de um homem
que um dia lembrou Goya numa carta a seus
filhos, queria dizer-te que a vida é também
isto: uma espingarda às vezes carregada
(como dizia uma mulher sozinha, mas grande
de jardim). Mostrar-te leite-creme, deixar-te
testamentos, falar-te de tigelas - é sempre
olhar-te amor. Mas é também desordenar-te à
vida, entrincheirar-te, e a mim, em fila descontínua
de mentiras, em carinho de verso.

E o que queria dizer-te é dos nexos da vida,
de quem habita para além do ar.
E que o respeito inteiro e infinito
não precisa de vir depois do amor.
Nem antes. Que as filas só são úteis
como formas de olhar, maneiras de ordenar
o nosso espanto, mas que é possível pontos
paralelos, espelhos e não janelas.

E que tudo está bem e é bom: fila ou
novelo, duas cabeças tais num corpo só,
ou um dragão sem fogo, ou unicórnio
ameaçando chamas muito vivas.
Como o cabelo claro que tinhas nessa altura
se transformou castanho, ainda claro,
e a metáfora feita pela infância
se revelou tão boa no poema. Se revela
tão útil para falar da vida, essa que,
sem tigelas, intactas ou partidas, continua
a ser boa, mesmo que em dissonância de novelo.

Não sei que te dirão num futuro mais perto,
se quem assim habita os espaços das vidas
tem olhos de gigante ou chifres monstruosos.
Porque te amo, queria-te um antídoto
igual a elixir, que te fizesse grande
de repente, voando, como fada, sobre a fila.

Mas por te amar, não posso fazer isso,
e nesta noite quente a rasgar junho,
quero dizer-te da fila e do novelo
e das formas de amar todas diversas,
mas feitas de pequenos sons de espanto,
se o justo e o humano aí se abraçam.

A vida, minha filha, pode ser
de metáfora outra: uma língua de fogo;
uma camisa branca da cor do pesadelo.
Mas também esse bolbo que me deste,
e que agora floriu, passado um ano.
Porque houve terra, alguma água leve,
e uma varanda a libertar-lhe os passos.

- Ana Luísa Amaral -

* (ou, neste caso, carta a uma irmã...)

Porque eu sei que entendeste e porque te sinto preparada para voar mais alto e percorrer um pouco mais a linha da tua Vida, que será de Felicidade... basta que continues a acreditar! M&M*