I was always the goofiest one.
Hoje fui com a mãe ao cemitério. Levamos-te lírios brancos e camélias, como quase sempre. A chuva caía desalmadamente nesse momento e eu fiz o que sempre faço, fui apontando à mãe as campas com os nomes que desde sempre me lembro de achar engraçados, pela sua originalidade: Heremilda Emília, Florismundo José, Gertrudes Rosa, Emerenciano Augusto. São já velhos conhecidos nossos, passamos por eles sempre com imenso respeito e a mãe nunca viu mal nenhum nesta minha brincadeira, nem mesmo quando digo que um dia que tenha que escolher o nome de um filho vou passear para Agramonte (tu sabes que já tenho os nomes escolhidos há muito, só falta mesmo ter condições para os ter).
Foi enquanto limpava o jazigo e arranjava as flores que me apercebi. Eu não vou ao cemitério por causa da mãe, para lhe fazer companhia. Ou melhor, não vou apenas por causa dela. Todo este nosso ritual é a forma que arranjamos de te continuar a fazer presente nas nossas vidas. A escolha das flores, a caminhada por entre cedros, japoneiras, magnólias, campas e jazigos, as conversas e o café com tarte de maça que se lhes segue - nada disto é tétrico, muito menos necessariamente triste. Não vamos ao cemitério por o teu nome constar numa pedra já gasta de um jazigo de família. Vamos por estares viva em nós. Serenamente, já sem dor. Apenas muita saudade.
Hoje percebi que vou por mim, acima de tudo. Porque continuas viva em mim, não apenas nas lembranças, mas também nestes fins de tarde de Inverno em que eu e a mãe vamos celebrar o teu nascimento e agradecer o privilégio de te ter nas nossas vidas. Para sempre.