15 de março de 2014

London 3.











No nosso primeiro dia em Londres, depois de termos tratado do Oyster card, de termos feito o check-in, pousado as malas no quarto e nos termos refrescado, e imediatamente após um reconfortante almoço num pub perto do hostel - uma tarte de frango acompanhada com ervilhas e batatas fritas que nos soube tão bem naquela tarde fria e chuvosa, fomos até à City londrina, provavelmente a milha quadrada mais conhecida do mundo e o centro histórico e financeiro da cidade. 
Escureceu particularmente cedo naquele dia, com o tão afamado fog a descer sobre o rio e a ensombrar os arranha-céus e as pontes do Tamisa logo ao início da tarde. Com o passar das horas e à medida que íamos percorrendo o The Queen's Walk, o nevoeiro deu lugar a uma ligeira neblina, permitindo-nos desfrutar da belíssima paisagem que se pode observar das margens do rio - as pontes, os edifícios iluminados do centro financeiro, os escritórios ainda em período laboral, os monumentos, os barcos e o ferrys que navegam ao longo do Tamisa, atribuindo-lhe um movimento constante e um colorido muito particular. 
Ao final da tarde, e com o aproximar da noite, os pubs, cafés e restaurantes encheram-se para happy hours animados e jantares mais ou menos informais. As ruas transformaram-se num corrupio de pessoas bem vestidas, umas a sair do trabalho outras a dirigirem-se para uma exposição numa das muitas galerias de arte, para o teatro ou para assistir a um qualquer outro espectáculo em cartaz. As margens do Tamisa, sobretudo nesta zona da cidade, transpiram cultura por todos os lados - nós, uma vez mais, prometemos voltar assim que nos for possível, com mais tempo e disponibilidade financeira, para aproveitar melhor a oferta cultural de Londres. Soube-nos demasiado a pouco desta vez. 
Eu, confessamente deslumbrada, a viver um sonho antigo e ansiado, posta pela primeira de frente para o Tamisa, passei o tempo todo a reviver cenas do Frenzy na minha cabeça, num misto de ainda não acredito que estou aqui  e já viste demasiado filmes tu, é o que é! A verdade é que de cada vez que olhava o rio, turvo e carregadinho de história, era esta a imagem que imediatamente me vinha à mente.
Chegamos ao fim do dia exaustas, com os pés molhados e gelados, alguns quilómetros doridos na barriga das pernas, um jantar improvisado em cima da cama depois de um banho bem quente e a certeza de que isto de viajar nos está na pele, na alma e no coração. 

And I'm still mesmerized.



Obrigada, Strangers.

14 de março de 2014

May my heart always be open.



Porto 2014


may my heart always be open to little 
birds who are the secrets of living 
whatever they sing is better than to know 
and if men should not hear them men are old 

may my mind stroll about hungry 
and fearless and thirsty and supple 
for even if it's sunday may i be wrong 
for whenever men are right they are not young 

and may myself do nothing usefully 
and love yourself so more than truly 
there's never been quite such a fool could fail 
pulling all the sky over him with one smile

- e. e. cummings -

12 de março de 2014

Quiet.

A species in which everyone was General Patton would not succeed, any more than would a race in which everyone was Vincent van Gogh. I prefer to think that the planet needs athletes, philosophers, sex symbols, painters, scientists; it needs the warmhearted, the hardhearted, the coldhearted, and the weakhearted. It needs those who can devote their lives to studying how many droplets of water are secreted by the salivary glands of dogs under which circumstances, and it needs those who can capture the passing impression of cherry blossoms in a fourteen-syllable poem or devote twenty-five pages to the dissection of a small boy’s feelings as he lies in bed in the dark waiting for his mother to kiss him goodnight... Indeed the presence of outstanding strengths presupposes that energy needed in other areas has been channeled away from them.

- Allen Shawn - 

Foi esta a citação que Susan Cain escolheu para encabeçar o seu livro "QUIET: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Talking" e que, de certa forma, é uma boa síntese do mesmo. 

Sendo eu uma pessoa introvertida, tímida q.b., com uma paixão imensa pelo ser humano e pelo lado social da nossa existência, mas também com uma necessidade enorme de momentos de calma e sossego, introspecção e até mesmo algum isolamento, toda a vida lutei para que as pessoas percebessem que esta minha maneira de ser não é um defeito mas sim feitio e que não há mal nenhum em ser como sou, bem pelo contrário, A pressão social que sempre senti para mudar, para ser como o modelo ideal de pessoa que me apresentavam - extrovertida, faladora, excelente comunicadora, sempre pronta a conviver socialmente, não importa qual a circunstância ou o lugar, fez-me algumas moças no passado, provocou muitas angústias e algumas lágrimas, mais ou menos escondidas. 

Há livros que nos devolvem uma certa paz de espírito, que nos apaziguam de uma forma que já nem nos lembrávamos que precisávamos, validando uma série de coisas em nós - e sim, por vezes essa validação externa é necessária. Só gostava que me tivessem passado para as mãos um livro assim ali no início da adolescência. Nunca é tarde, no entanto. 


)




Porto 2014

Wanderlust. Fotografia. Escrita. Levante. Encontros. Projecto de vida. Educação. Natureza. Sonho. Mundo.

Assim seja.

11 de março de 2014

O lugar da casa.

Uma casa que fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino:
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia.
                  - Eugénio de Andrade - 

10 de março de 2014

London 2.










4 - Carnaby Street, Soho
5 e 6 - Leicester Square, Soho
7 - M&M's World, Soho
8 - Piccadilly Circus, Soho
9 - Regent Street, Soho

Ir a Londres em plena quadra natalícia é um bónus que nos deixou ainda mais entusiasmadas. A cidade ganha uma magia incrível, as ruas ficam mais bonitas e há um colorido de luzes, sacos de compras a bambolear em mãos de gentes mais ou menos apressadas, montras primorosamente decoradas e um espírito festivo, de comunhão e de alegria como não temos sentido no nosso país. Pelo menos não nos últimos anos. 

Quase todas as ruas estavam engalanadas, havia pequenos mercados natalícios e feiras com carrosséis, bancas com as mais diversas iguarias, bebidas mais ou menos quentes, ao gosto variado de quem ia passando, em quase todas as praças. Nas ruas mais movimentadas e com maior comércio, como é o caso da Regent Street e toda a zona envolvente, sentia-se um frenesim que nos envolvia por completo. Mesmo quem não estava ali para fazer compras, como era o nosso caso, não ficáva indiferente à excitação palpável e aos sorrisos. Não sendo o Natal apenas sinónimo de presentes, era inegável a alegria contagiante de quem andáva à procura do presente certo para oferecer aos seus. Essa felicidade era visível e contrastáva não apenas com o clima cinzento que se fazia sentir em terras de Sua Majestade como, acima de tudo, com o ar sombrio e cabisbaixo das nossas gentes aqui em Portugal. Um contraste que mexeu muito connosco e nos fez desejar apenas melhores dias para todos nós como presente no sapatinho. 

A cidade está repleta de turistas em qualquer época do ano, no entanto, havia uma amálgama de gente diferente pelas ruas, com imensas pessoas às compras e a deliciarem-se com as luzes e os mais variados eventos alusivos à quadra, não apenas estrangeiros mas também ingleses de outras zonas do país que aproveitavam para ali fazer as suas compras de Natal e desfrutar de tudo o que Londres tem para oferecer por aqueles dias. Nós andámos o tempo todo pela cidade como duas crianças numa loja de brinquedos, literalmente em vésperas de Natal. Concordámos que tudo tinha um brilho especial e aqueles dias conseguiram resgatar em nós um pouco do espírito natalício que temos vindo a perder, pelos mais diversos motivos. Acordámos a criança que ainda há em nós e permitimo-nos viver aquele momento como se estivéssemos a ver tudo pela primeira vez, numa excitação pueril que nos comoveu. 

Fomos a Covent Garden e perdemo-nos pelos seus mercados, ouvindo a orquestra que tocáva ao centro, tornando todo o ambiente ainda mais acolhedor - não há nada como uma boa música tocado ao vivo. Deliciámo-nos com cada pormenor, ficámos com pena de não irmos mais endinheiradas para nos podermos sentar num dos muitos restaurantes ou fazer uma ou outra compra (perdíamos facilmente a cabeça na lojinha de brinquedos ou na outra cheia de objectos de inspiração náutica, só assim a título de exemplo). À hora de almoço, seguimos o cheirinho das beef pies with mashed potatoes, pedimos uma caixinha para levar e fomos procurar um sítio abrigado da chuva onde pudéssemos almoçar sossegadas e sentadas, de preferência. Assim descobrimos, à conta de tanto deambular à volta dos mercados, mais umas quantas ruas encantadoras e lá conseguimos saborear a nossa tarte descansadinhas e sentadas nuns degraus - um piquenique improvisado que nos soube pela vida, provando que não precisamos de muito para sermos genuinamente felizes. 

No Soho, um dos mais boémios, liberais, plurais e empolgantes bairros da cidade, poderíamos passar horas, senão mesmo dias inteiros. Já não sei onde li a frase-slogan seja lá o que procura, encontrará no Soho, mas parece-me ser um bom resumo do que se pode esperar daquele recanto londrino. Restaurantes, bares, discotecas, pubs, padarias, confeitarias, lojas mais ou menos alternativas, teatros, casinos, bancas de fruta e produtos orgânicos - ali há de tudo um pouco para os mais variados gostos e carteiras. Durante o dia, as ruas têm um ambiente descontraído e ecléctico, com pessoas às compras, a almoçar, a tomar um cappuccino ou a saborear um happy hour num dos muitos estabelecimentos que há à disposição, tornando a escolha um jogo de sorte ou de conhecimento comprovado. À noite, diversas tribos urbanas convivem alegremente em restaurantes apinhados, filas de espera nos bares mais badalados ou em deambulações animadas pelas ruas. A Chinatown é também um ponto de paragem obrigatório para quem gostar de (bons) sabores asiáticos, transportando-nos imediatamente para paragens mais longínquas e relembrando-nos a cada passo que estamos numa das capitais mais cosmopolitas do mundo. 

Um dos momentos de pura alegria que vivemos foi a ida à M&M's World, a mega loja dos amendoins achocolatados mais famosos do mundo e uma das pouquíssimas lojas onde nos permitimos entrar. Quem nos conhece, sabe da nossa paixão por estes coloridos amendoins, não apenas porque gostamos mesmo muito de os comer, mas também porque fazem um pouco parte da história da nossa amizade. Como boas homónimas que somos, Marianas de alma e coração, passamos a ser conhecidas como as M&M entre familiares e amigos - uma dupla imbatível que percorreu os quatro andares da meca londrina dos amendoins como se aquilo fosse a última coca-cola do deserto, fingindo ser outra vez pequeninas e tentando conter a gula perante milhares de amendoins de todas as cores possíveis e imaginárias.

Se a ida a Londres não tivesse servido para mais nada, tínhamos regressado de lá com a certeza de termos sorrido mais naqueles curtíssimos dias e dado as mais sonoras gargalhadas dos últimos anos. Só por isso já teria valido a pena. Isso e a convicção de que um pouquinho de ridículo nunca fez mal a ninguém. 

Another sunny day.

9 de março de 2014

À espera da Primavera.








Leça da Palmeira, Março de 2014

Ontem fui cheirar o mar, comer um gelado, sentir o sol na pele e fechar os olhos, trauteando Caymmi e saboreando a maresia que me beijava os lábios. Os problemas não desapareceram, mas aquelas horinhas já ninguém me tira. Abençoado sol.