6 de fevereiro de 2009

Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar, se abraçar...

Amigo é feito casa que se faz aos poucos 
e com paciência pra durar pra sempre 
Mas é preciso ter muito tijolo e terra 
preparar reboco, construir tramelas 
Usar a sapiência de um João-de-barro 
que constrói com arte a sua residência 
há que o alicerce seja muito resistente 
que às chuvas e aos ventos possa então a proteger 
E há que fincar muito jequitibá 
e vigas de jatobá 
e adubar o jardim e plantar muita flor toiceiras de resedás 
não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar 
que os cabelos brancos vão surgindo 
Que nem mato na roceira 
que mal dá pra capinar 
e há que ver os pés de manacá 
cheínhos de sabiás 
sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis 
choro de imaginar! 
pra festa da cumieira não faltem os violões! 
muito milho ardendo na fogueira 
e quentão farto em gengibre 
aquecendo os corações 
A casa é amizade construída aos poucos 
e que a gente quer com beira e tribeira 
Com gelosia feita de matéria rara 
e altas platibandas, com portão bem largo 
que é pra se entrar sorrindo 
nas horas incertas 
sem fazer alarde, sem causar transtorno 
Amigo que é amigo quando quer estar presente 
faz-se quase transparente sem deixar-se perceber 
Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar, 
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer 
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha 
e oferece lugar pra dormir e comer 
Amigo que é amigo não puxa tapete 
oferece pra gente o melhor que tem e o que nem tem 
quando não tem, finge que tem, 
faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão.
 
Composição: Capiba / Hermínio Bello De Carvalho -

Uma das mais bonitas canções de sempre, na voz de duas das maiores vozes do Brasil... me aguardem ;)

Para todos voçês, meus amigos!

4 de fevereiro de 2009

Abbiamo vinto...

1000 punti da schiantare dal ridere!!!


Tropecei hoje neste emocionante discurso do Roberto Benigni sem querer. 
Lembro-me de ter chorado naquela madrugada de Óscares, em finais da década de 90, ao ver o entusiasmo verdadeiro de Benigni e a enorme gratidão que sentia por estar ali naquele momento. 
Vê-lo receber o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro por La Vita è bella, das mão da Sofia Loren, foi um daqueles momentos marcantes na vida de uma cinéfila, na altura a terminar a sua carreira de teen (in)consciente.

O filme, essa fábula deliciosa sobre a brutalidade que a raça humana consegue atingir e o amor de um pai pelo seu filho, que tenta, acima de tudo, conservar-lhe o olhar inocente e encantado pela vida, é uma tragicomédia que deveria estar mais presente em todos nós, para nunca nos esquecermos do que é verdadeiramente essencial e importante - o AMOR. 

Pois, como escreveu Dante no último verso da sua  La divina commedia, é L'Amor che muove il Sole e l'altre stelle.

3 de fevereiro de 2009

This girl made my whole month...



Pianist Emily Bear has only been playing piano for two years, but at just seven years old, her accomplishments are inspiring and her talent is breathtaking. Classical, jazz and boogie come naturally to her. She performs a large list of classics and standards, and also composes her own magical songs.

Como é que uma coisinha fofa e ainda meio desdentada como ela, consegue compôr isto, tocar desta maneira e encantar tudo e todos?

She's really special and I wish her only the best and a great future :)

Serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória...

Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo
das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas
da casa e de tudo aquilo com que sonhes.

Não adormeças já. Diz-me outra vez do rio que palpitava
no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha
a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi
de quatro folhas; e das ervas húmidas e chãs
com que em casa se cozinham perfumes que ainda hoje
te mordem os gestos e as palavras.

O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai
demorar-se a regressar. Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres,
serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória,
como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono
se agora apenas me olhares de longe e adormeceres.


- Maria do Rosário Pedreira, in A Casa e o cheiro dos livros -