17 de março de 2011

Não amaremos como as flores.

Quem ama
fica cheio de não-saber
não pára de procurar

Escrevendo o fulgor do êxtase
percorre o rio do sangue
conhece os horrores da guerra íntima
toda vermelha e crua
fértil em rupturas
incessante nos ataques

Não
nenhum rosto materno sobre o nosso debruçado
nos consolaria
se houvesse esse rosto
essa ternura impossível de entender

Nada nos pode consolar
do excessivo peso do amor
que oprime como a noite
cheia de não-saber
como tudo o que é divino
e inventado

De facto
não amamos como as flores
totalmente simples na sua entrega
Quando amamos
deixamos de ser o que somos
transfigurados pelo desejo
que mata
destrói
violenta tudo

E perscrutando a noite
que a si própria se escava e aplaina
amando
fitamos a intermitência das estrelas
deslumbrados por um brilho extinto
que fere com lentidão sideral
o ermo íntimo do nosso coração

Inatingível sempre
e como tal desejado
o verdadeiro amado

Quem ama
não pára
percorre
o rio do sangue
a guerra íntima

Não
nada nos pode consolar
do peso do amor
do peso do não-saber
do peso do divino
Transfigurados pelo desejo
fitamos as estrelas
deslumbrados
perscrutando
um brilho extinto
que a si próprio
se escava
e aplaina

Como cantar
cheios de não-saber
de guerra íntima
de rupturas

Nenhum rosto
nos pode consolar
do que é inventado

Não
não amaremos como as flores
totalmente simples

O desejo
violenta
tudo
fere
o ermo íntimo do nosso coração

- Ana Hatherly -

笑顔 *

Imagem daqui.

* O título deste post é sorriso (não, infelizmente não sei japonês e tive que recorrer às ferramentas do Google). Tenho um respeito enorme pelo japoneses e pela cultura daquele país. Associo-lhes sempre, entre outras coisas, uma extrema simpatia e um sorriso contagiante. Sorriso esse que contrasta com as lágrimas destes dias. As deles e as minhas.

16 de março de 2011

Primavera em flor ao sol de Inverno.




Jardim - Março de 2011

Resquícios.



Jardim - Março de 2011


Canção mínima.




A. - Março de 2011, pela minha Pequenina mais crescida.


No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta. 

- Cecília Meireles -