20 de novembro de 2010

Sublimemos, amor. Assim as flores



No jardim não morreram se o perfume
No cristal da essência se defende.
Passemos nós as provas, os ardores:
Não caldeiam instintos sem o lume
Nem o secreto aroma que rescende.

- José Saramago, in "Os Poemas Possíveis" -






No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.

- José Saramago, in "Os Poemas Possíveis" -

"Oh pá, tu não percebes, ...



























... este é o filme da minha geração!!!" *

- disse-me ela, de olhos vidrados no ecrã do cinema, para aí há um mês atrás, enquanto assistíamos ao trailer. 
Ainda não vi o filme, mas estou ansiosa por o percepcionar através do seu olhar.


* Ou como me fazer sentir velha em três tempos...

18 de novembro de 2010

Escuto.

Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou deus

Escuto sem saber se estou ouvindo

O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra a fita

Apenas sei que caminho como quem

É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco

- Sophia de Mello Breyner Andresen -

17 de novembro de 2010

Há sempre qualquer coisa que me faz voltar...



Sam Weber: So how's your life?
Karen: Oh, great. How's yours?
Sam Weber: Not so great.
Karen: Ohhh, we're telling the truth. 

... a este filme *. Desta vez foi uma certa nostalgia de mim mesma. Tinha 10 anos a primeira vez que o vi, numa madrugada de sábado, durante as férias da Páscoa, na RTP 1. Pouco tempo antes, vira o Clube dos Poetas Mortos no cinema e, juntos, foram os filmes que mais me marcaram no início da minha pré-adolescência. Na altura compreendi-os melhor do que poderia imaginar (os visionamentos posteriores confirmaram-no) e tive consciência absoluta daquilo que cada um deles pretendia significar. 
Hoje tenho saudades daquela menininha sagaz. Faz-me falta aquela clareza. Sei que nem sempre me foi útil, ou melhor, sei que nem sempre foi bem entendida pelos outros, dando azo a uma adolescência introspectiva, demasiado virada para dentro. Sinto falta daquele olhar sereno e, ao mesmo tempo, astuto sobre o mundo. Por vezes sinto que me deixei quebrar algures pelo caminho.


* Que tem umas das bandas sonoras mais memoráveis, o elenco perfeito e cenas deliciosas.