"RECORDAÇÃO
Eu sorrira. Nada mais. Mas a claridade foi em mim, e no fundo
do meu silêncio.
Ele seguia-me. Como a minha sombra, irrepreensível e ligeira.
Na noite soluçou um canto...
Os índios alongavam-se, sinuosos, pelas ruas da aldeia.
Seguiam envoltos em coloridos mantos de sarape, a dançar, depois
de beberem mescal. Uma harpa e um cavaquinho eram a música, e a
alegria eram as morenas sorridentes.
Ao fundo, atrás da praça do Zócalo, brilhava o rio. E partia, como
os minutos da minha vida.
Ele seguia-me.
Eu acabei por chorar. Esquecida no átrio da Paróquia, aconchegada
no meu xaile de algodão, impregnando-o de lágrimas.
NOTA
Esta prosa poética foi localizada pelo doutor Luis Mario Schneider na
página 61 de El Universal Ilustrado de 30 de Novembro de 1922."
"RECADO PARA ISABEL CAMPOS
Amigalhaça das minhas entretelas.
Dize exactamente quando é que pensas vir cá tomar banho, para
eu te ir buscar.
Peço-te desculpa por só te mandar hoje as calcinhas, mas aqui a
dactilógrafa não arranjou tempo para tas ir levar.
Sabes bem que, tu e eu, somos unha e carne. A tua poderosa amiga
Frieda
NOTA
Isabel Campos (1906-1994) nasceu, tal como Frida, em Coyoacán. Cultivaram
uma estreita amizade durante três décadas, mas foram-se afastando à
medida que Frida ia penetrando noutros meios. Este recado sem data foi escrito
num cartão-de-visita."