8 de janeiro de 2010

Recomeçar...


Poema de Ano-Novo

É preciso que nos encontremos diante do amor como as árvores fêmeas
cuja raiz é a mesma e se perde na terra profana
É preciso...a tristeza está no fundo de todos os sentimentos
como a lágrima no fundo de todos os olhos
Sejamos graves e prodigiosos, ó minha amada, e sejamos também irmãos e amigos.

É preciso que levemos diante de nós o retrato das nossas almas
como se fôssemos a um tempo a Verônica e o Crucificado
Eu sou o eterno homem e hoje que a dor fecunda o tempo
eu sinto mais que nunca a vontade de fechar os braços sobre a minha miséria.
Fiquemos como duas crianças pensativas sentadas numa escada
- todos serão os peregrinos e apenas nós os contemplados.


- Vinícius de Moraes -

6 de janeiro de 2010

Um dia...





...fizemos planos para dar a volta ao mundo em bicicleta, lembras-te? 


Planos malucos, exagerados e sonhadores de dois jovens aventureiros e apaixonados...um pelo outro e pela vida. Hoje voltei a lembrar-me deles quando me disseste para ir frente e fazer o que acho que deve ser feito, independentemente da opinião dos outros. Que se lixem os muito direitinhos, os rotineiros, os que seguem sempre em linha recta com medo de parar na berma da estrada para melhor observar a paisagem...tu não és assim, nunca foste e se um dia te resignares a ser, passarás a ser uma estranha aos meus olhos.
Fiquei calada, com as lágrimas as escorrem-me pela cara abaixo e as tuas palavras a martelarem-me na cabeça. Não quero nunca ser uma estranha para ti, nem para todos aqueles que amo...mas, acima de tudo, não quero um dia olhar-me no espelho e não me reconhecer mais.
Quero manter-me fiel a mim mesma o mais possível, que se lixem os que não entendem as minhas escolhas e agem como se as suas vidas fossem o único exemplo a seguir. Como nós os dois costumamos dizer, podem rir-se da nossa desgraça, mas jamais gargalharam connosco na alegria.


Obrigada Pan*

Los futuros tienen una forma de caerse en la mitad...



Después de un tiempo, 
uno aprende la sutil diferencia
entre sostener una mano
y encadenar un alma, 
y uno aprende
que el amor no significa acostarse
y una compañía no significa seguridad
y uno empieza a aprender...
Que los besos no son contratos
y los regalos no son promesas
y uno empieza a aceptar sus derrotas
con la cabeza alta y los ojos abiertos
y uno aprende a construir
todos sus caminos en el hoy, 
porque el terreno del mañana
es demasiado inseguro para planes...
y los futuros tienen una forma de caerse 
en la mitad. 
Y después de un tiempo
uno aprende que si es demasiado, 
hasta el calorcito del sol quema. 
Así que uno planta su propio jardín
y decora su propia alma, 
en lugar de esperar a que alguien le traiga flores. 
Y uno aprende que realmente puede aguantar,
que uno realmente es fuerte, 
que uno realmente vale, 
y uno aprende y aprende...
y con cada día uno aprende.


- Jorge Luis Borges -

5 de janeiro de 2010

Vontade de ser pássaro...


...e de voar!

Nómada para sempre...



Poema do Futuro

Conscientemente escrevo e, consciente,
medito o meu destino.
No declive do tempo os anos correm,
deslizam como a água, até que um dia
um possível leitor pega num livro
e lê,
lê displicentemente,
por mero acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da construção do verso que destoa
no seu diferente ouvido;
sorri dos termos que o poeta usou
onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri, quase ri, do íntimo sentido,
do latejar antigo
daquele corpo imóvel, exhumado
da vala do poema.

Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.
Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.



- António Gedeão -

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