12 de maio de 2007

Cartas de Amor (2)

Funeral Blues

Stop all the clocks, cut off the telephone
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message HE IS DEAD,
Put crêpe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policeman wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working weak and my Sunday rest,
My moon, my midnight, my talk, my song,
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now, put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean ans sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good.

- W.H. Auden, Abril de 1936 -

Cartas de Amor (1)

Delphin Enjorlas - The Letter

Ophelinha:
Agradeço a sua carta. Ella trouxe-me pena e allivio ao mesmo tempo. Pena, porque estas cousas fazem sempre pena; allivio, porque, na verdade, a unica solução é essa - o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos, fica uma estima profunda, uma amisade inalteravel. Não me nega a Ophelinha outro tanto, não é verdade?
Nem a Ophelinha, nem eu, temos culpa nisto. Só o Destino terá culpa, se o Destino fosse gente, a quem culpas se attribuissem.
O Tempo, que envelhece as faces e os cabellos, envelhece tambem, mas mais depressa ainda, as affeições violentas. A maioria da gente, porque é estupida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contrahiu o habito de se sentir a amar. Se assim não fosse, naão havia gente feliz no mundo. As creaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade d'essa illusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por elle a estima, ou a gratidão, que elle deixou.
Estas cousas fazem soffrer, mas o soffrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão de passar o amor e a dor, e todas as mais cousas, que não são mais que partes da vida?
Na sua carta é injusta para commigo, mas comprehendo e desculpo; decerto a escreveu com irritação, talvez mesmo com magua, mas a maioria da gente - homens ou mulheres - escreveria, no seu caso, num tom ainda mais acerbo, e em termos ainda mais injustos. Mas a Ophelinha tem um feitio optimo, e mesmo a sua irritação não consegue ter maldade. Quando casar, se não tiver a felicidade que merece, por certo que não será sua a culpa.
Quanto a mim...
O amor passou. Mas conservo-lhe uma affeição inalteravel, e não esquecerei nunca - nunca, creia - nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequeneina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua indole amoravel. Pode ser que me engane, e que estas qualidades, que lhe attribúo, fossem uma illusão minha; mas nem creio que fossem, nem, a terem sido, seria desprimor para mim que lh'as attribuisse.
Não sei o que quer que lhe devolva - cartas ou que mais. Eu preferia não lhe devolver nada, e conservar as suas cartinhas como memoria viva de uma passado morto, como todos os passados; como alguma cousa de commovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos annos é par do progresso na infelicidade e na desillusão.
Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infancia, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras affeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memoria profunda do seu amor antigo e inutil
Que isto de "outras affeiçõpes" e de "outros caminhos" é consigo, Ophelinha, e não commigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existencia a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais á obediência a Mestres que não permittem nem perdoam.
Não é necessario que comprehenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.

Fernando
29/XI/1920

- Fernando Pessoa -

Dos antigos...

The Doors - "People are strange"

7 de maio de 2007

O mundo de Sophia... (5)


Che Guevara


Contra ti se ergueu a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas
A indesição dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra.

De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de consumo
Como Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das igrejas.

Porém
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece.

- Sophia -


* Quem explica aos adolescentes que hoje em dia vestem T-shirts com a sua imagem ou exibem nas mochilas pins com o seu rosto, quem foi este homem, por que causas lutou, por que se transformou num revolucionário e por quem foi assassinado e porquê?!
Muitas vezes me questionei em quem se teria transformado aquele jovem idealista se não tivesse morrido precocemente?! Será que hoje estaria firme ao lado de Fidel? Será que continuaria a lutar pelas causas em que acreditava ou teria sucumbido às tentações do Poder? Nunca saberemos e aí reside o seu mistério... El CHE foi imortalizado como um herói, um mito que tem acompanhado várias gerações.
Mas será que os miúdos de hoje sabem o significado da imagem que carregam? Ou para eles, aquele jovem de barba e boné tem apenas o significado de algo rebelde, de "uma cena fixe" que é cool usar, mas sem saberem minimamente quem foi Che Guevara?

Não fui eu que disse...mas poderia muito bem ter sido! (9)

" Mergulho no desespero de um escritor que não escreve. "
- Marguerite Yourcenar -