21 de março de 2007

Não fui eu que disse...mas poderia muito bem ter sido! (5)

" A solidão é óptima, desde que haja alguém com quem possamos conversar sobre isso. "
- Balzac -

Brasil (4)

" Separação

Desmontar a casa
e o amor. Despregar
os sentimentos
das paredes e lençóis.
Recolher as cortinas após a tempestade
das conversas.

O amor não resistiu
às balas, pragas, flores
e corpos de intermeio.

Empilhar livros, quadros,
discos e remorsos.
Esperar o infernal
juízo final do desamor.

Vizinhos se assustam de manhã
ante os destroços junto à porta:
- pareciam se amar tanto!

Houve um tempo:
uma casa de campo,
fotos em Veneza,
um tempo em que sorridente
o amor aglutinava festas e jantares.

Amou-se um certo modo de despir-se,
de pentear-se.

Amou-se um sorriso e um certo
modo de botar a mesa. Amou-se
um certo modo de amar.

No entanto, o amor bate em retirada
com as suas roupas amassadas, tropas de insultos
malas desesperadas, soluços embargados.

Faltou amor no amor?
Gastou-se o amor no amor?
Fartou-se o amor?

No quarto dos filhos
outra derrota à vista:
bonecos e brinquedos pendam
numa colagem de afetos natimortos.

O amor ruiu e tem pressa de ir embora
envergonhado.

Erguerá outra casa , o amor?
Escolherá objectos, morará na praia?
Viajará na neve e neblina?

Tonto, perplexo, sem rumo
um corpo sai porta afora
com pedaços de passado na cabeça
e um impreciso futuro.
No peito o coração pesa
mais que uma mala de chumbo. "

- Affonso Romano de Sant'Anna -

O beijo amadurece

Pelo rio do meu corpo
o barco à vela dos teus olhos.

O beijo amadurece.

Que fazer
das palavras que sobram.

- Rosa Lobato de Faria -


Agora que é oficial...

Foto de Diego Coelho

...a PRIMAVERA resolveu pregar-nos uma partida, e depois de nos ter "enganado" com uns dias de sol e calor fora de época, adiou novamente a sua chegada e obrigou-nos a regressar às camisolas grossas, casacos, cachecóis e afins!
Depois de já nos termos habituado ao céu azul e sem nuvens e aos finais de tarde amenos que convidavam a um passeio à beira mar antes do regresso a casa, fomos novamente brindados com dias gélidos e ventosos e a noites pouco convidativas a outra coisa que não seja uma manta quente e um sofá confortável frente à TV a seguir ao jantar, antes de nos arrastarmos para a cama...
Quero de novo os raios de Sol a entrarem pela janela logo pela manhã e aquele cheirinho a flores e terra quente assim que ponho os pés na rua; quero as caminhadas na praia e as roupas leves e frescas que já enchem as lojas; quero os dias compridos e as noites quentes e longas; quero as tardes preguiçosas nas esplanadas à beira mar, enfim, quero que a Primavera assuma de uma vez o seu posto, para deste modo poder mais rapidamente passar a "pasta" ao seu primo Verão, pois eu já não aguento mais aquele primo insuportável que atende pelo nome de Inverno!

19 de março de 2007

Só tu...

Le Baiser sur ´l´Hotel de Ville, de Robert Doisneau (1950)


" Só tu
De todas que me beijaram,
de todas que me abraçaram,
já não me lembro, nem sei!
são tantas as que me
amaram,
são tantas as que eu amei!

Mas tu - que rude
contraste!
tu que jamais me beijaste,
tu - que jamais abracei,
só tu nesta alma ficaste
de todas as que eu amei. "

- Paulo Setúbal -

18 de março de 2007

Não fui eu que disse...mas poderia muito bem ter sido!(4)

" Tendo visto com que lucidez e coerência lógica certos loucos justificam, a si próprios e aos outros, as suas ideias delirantes, perdi para sempre a segura certeza da lucidez da minha lucidez."
- Bernardo Soares -

Brasil (3)

Rua Nascimento Silva,107 Ipanema - RJ, onde Tom Jobim morou de 1953 a 1962.


Carta ao Tom 74

(Toquinho & Vinicius de Moraes)

Rua Nascimento e Silva, cento e sete,

você ensinando prá Elizeth

as canções de "Canção do Amor Demais"

lembra que tempo feliz, ai que saudade,

Ipanema era só felicidade

era como se amor doesse em paz

nossa famosa garota nem sabia

a que ponto a cidade turvaria

esse Rio de amor que se perdeu

mesmo a tristeza da gente era a mais bela

e além disso se via da janela

um cantinho de céu e o Redentor

é meu amigo, só resta uma certeza,

é preciso acabar com essa tristeza

é preciso inventar de novo o amor


Carta ao Tom*

(Chico Buarque/Tom Jobim/Toquinho)

Rua Nascimento Silva, 107
Eu saio correndo do pivete
Tentando alcançar o elevador
Minha janela não passa de um quadrado
Onde a gente só vê Sérgio Dourado
Onde antes se via o Redentor
É meu amigo
Só resta uma certeza
É preciso acabar com a natureza
É melhor lotear o nosso amor

* Em 1977, Chico Buarque, Tom Jobim e Toquinho, fizeram uma paródia com a música Carta ao Tom, que era uma crítica aos "novos tempos" que então se viviam no Brasil.