19 de julho de 2007

Brasil (13)

O AUTO-RETRATO

No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

- Mário Quintana -

Ter tido a noite é mais do que mereço...

Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.

Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a noite é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.

Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.

Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.

Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.

Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.

- Rosa Lobato de Faria -

17 de julho de 2007

Porque a SIDA existe!

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O mundo de Sophia... (7)

" A coisa mais antiga de que me lembro é dum quarto em frente do mar dentro do qual estava, poisada em cima duma mesa, uma maça enorme e vermelha. Do brilho do mar e do vermelho da maça erguia-se uma felicidade irrecusável, nua e inteira. Não era nada de fantástico, não era nada de imaginário: era a própria presença do real que eu descobria. Mais tarde a obra de outros artistas veio confirmar a objectividade do meu próprio olhar. (...)
Dizer que a obra de arte faz parte da cultura é uma coisa um pouco escolar e artificial. A obra de arte faz parte do real e é destino, realização, salvação e vida. (...)
Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno. É apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor. (...)
E é por isso que a poesia é uma moral. (...) « Nenhuma muralha defenderá aquele que, embriagado com a sua riqueza, derruba o altar sagrado da justiça.» (...)
O tempo em que vivemos é o tempo duma profunda tomada de consciência. Depois de tantos séculos de pecado burguês a nossa época rejeita a herança do pecado organizado. não aceitamos a fatalidade do mal. (...)
Não somos apenas animais acossados na luta pela sobrevivência mas somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser. (...) "

- Sophia - excerto das palavras ditas em 11 de Julho de 1964 no almoço promovido pela Sociedade Portuguesa de Escritores por ocasião da entrega do grande Prémio de Poesia atribuído a Livro Sexto.

Não fui eu que disse...mas poderia muito bem ter sido! (11)

" Pleno Verão é quando a preguiça encontra respeitabilidade."
- Bern Williams -

16 de julho de 2007

Come Back (To The Middle)

India Arie e Raul Midón - porque há momentos assim...

Rescaldo - Intercalares de LX

Preciso dizer mais alguma coisa?!

Possuo para sempre tudo o que perdi...

(...) no centro da cidade, um grito. Nele morrerei, escrevendo o que a vida me deixar. E sei que cada palavra escrita é um dardo envenenado, tem a dimensão de um túmulo, e todos os teus gestos são uma sinalização em direcção à morte (...).
Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar. Medito no meu regresso. Possuo para sempre tudo o que perdi. E uma abelha pousa no azul do lírio, e no cardo que sobreviveu à geada. (...) Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto - aqui sentado, junto à janela fechada. Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténueluminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo. Recolho o mel, guardo a alegria e digo-te baixinho: Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor do mundo que nos foge. (...)

- in Lunário, Al Berto -