Daqui, um sítio por onde gosto de passear e sonhar. Foi num desses passeios que encontrei uma das capelas mais bonitas que me lembro de alguma vez já ter visto.
31 de março de 2012
30 de março de 2012
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Soube agora que uma colega minha do Secundário faleceu há um ano, pelo menos, com uma leucemia. Não sabia de nada. Nem eu, nem algumas pessoas que me são próximas e que eram mais próximas dela do que eu. Há muito que estranhávamos o seu afastamento, o silêncio, a ausência de notícias. Mas ninguém fez nada. Ah, é a vida, a rotina que nos engole, as pessoas que passam a ter vidas diferentes, a moverem-se em círculos distintos. É este tempo voraz, que voa por cima das nossas cabeças sem darmos por ele. Nada disto são desculpas, mas é este o discurso que vamos dizendo a nós mesmos, de forma a conseguirmos seguir em frente, sem que o peso da culpa seja demasiado. Nunca tive uma relação muito próxima com a J., éramos colegas, dávamo-nos bem, gostava dela, mas nunca fomos amigas chegadas. No entanto, a notícia da sua morte fez-me pensar em todas as pessoas que fui deixando para trás, consumida pela vida, até ao ponto em que nos tornamos quase estranhos, por falta de convivência e de memórias partilhadas. Fez-me pensar em todas as pessoas que se foram afastando de mim sem eu nunca procurar saber porquê, tão embrenhada que estava nos meus problemas. Será que essas pessoas não estavam com problemas maiores do que os meus? Será que não precisavam de alguém que os ouvisse, de algum tipo de ajuda? Sei que já me falharam mais vezes do que eu falhei a alguém, mas são precisamente essas que mais me doem. Saber que não estive onde e com quem deveria estar por me encontrar demasiadas vezes virada para mim mesma, para a espiral centrifugadora que são os meus dias, deixa-me com um nó na garganta e um vazio enorme. Nesta época em que todos sabemos uns dos outros através das fachadas escancaradas nas redes sociais, custa assim tanto pegar no telefone, mandar um email ou escrever uma sms a perguntar àqueles que nos são queridos se está realmente tudo bem? Se temos tempo para ver vídeos parvos e fazer likes em tudo e mais alguma coisa, também arranjamos tempo para um café, um passeio ao fim do dia, um jantar ao fim-de-semana ou um simples telefonema a dizer Como estás? Tenho saudades tuas. Não quero ter mais notícias destas, com mais de um ano decorrido, a meio de um dia de trabalho. E quero acreditar que a J. não morreu sozinha e que teve ao seu lado, até ao último minuto, pessoas que a amavam verdadeiramente.
29 de março de 2012
Como não amar uma cidade assim?
Porto, vistas da Torre dos Clérigos - Março de 2012
Para a S., de quemeu o Porto já tem muitas saudades.
Para a S., de quem
28 de março de 2012
Millôr.
Antes do Antes
Todos sabem: antes dos cientistas, antes dos fotógrafos, antes dos exploradores, nós, os desenhistas e escritores ditos de humor (na verdade a quintessência da seriedade) sempre chegamos antes ou fomos antes aonde não se achava possível.
Conversamos com os homenzinhos verdes de Marte antes dos cientistas, estivemos na lua antes dos astronautas, como antes penetramos nos porões de ditaduras, deixando registradas cenas horriphilariantes.
E até firmamos o princípio de que ''um tirano pode impedir uma fotografia, mas não pode evitar uma caricatura''.
Provando isso, agora, quando o novo Hubble parece ter fotografado um big-bang, republicamos este texto escrito há algumas décadas, pra mostrar que, nisso também, chegamos primeiro. Ou seja:
Além do infinito, tempos que ainda não se haviam iniciado, onde nem o nada ameaçava se tornar. Tempo inimaginável por ainda não existir imaginação, em plena vacuidade, no seio do incogitado, nicles patavina impalpável e intangível. Vazio insubstancial sobre vazio absoluto, entre o inascido e o inascível, ponto inenditificável incomensuravelmente distante de onde as paralelas nem se prometiam no remoto, onde ninguém (e nem ninguém não existia ) perceberia a formação do ausente. É, não havia o primevo, nem o embrional: tudo (nada) sem transpiração, respiro, desova, parto, nenhuma exalação ou sopro ou brilho. Uma perpetuidade sem fim, sem margem, sem nascente ou ocaso, côncavo ou convexo, ilimitável porque ilimitada. Foi então (como então?) que O Que Não Existia pressentiu (como?) a Criação. Comunicou (como? a quem?).
MORAL: DA VIDA NINGUÉM ESCAPA
27 de março de 2012
Mies.
Casa Farnsworth, também conhecida como Glass House - via
Ludwig Mies van der Rohe, 1886-1969
Hoje, ao atravessar de manhã cedo o jardim que rodeia o meu escritório, pensei nas linhas sóbrias e na geometria clara, mas cheia, de van der Rohe. Imaginei o que seria transplantar a Glass House para o Jardim dos Sentimentos e poder desfrutar daquela vista sobre o Douro através das suas paredes de vidro.
Sentei-me à secretária, abri o Google e sorri. Porque, a maior parte das vezes, less is more e, definitivamente, God is in the details.
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