de Jorge Palma - para a minha "Menina do Mar... Obrigada pelas lágrimas e muitos sorrisos dos últimos dias!
4 de agosto de 2007
Vem ter comigo à hora dos lilazes...
Acende a lua nova. E desabrocha
como uma flor vermelha na seara
Num cavalo de vento e de palavras
despenteia os cabelos da tristeza
Vem ter comigo à hora dos lilazes
quando todas as fontes se enamoram
dos cântaros vidrados de poente
e os seduzem com motetes de água
Se vieres pelo trilho das gaivotas
ainda entontecido de mar alto
encontrarás na terra do meu corpo
as sementes da tua eternidade.
_ Rosa Lobato de Faria -
como uma flor vermelha na seara
Num cavalo de vento e de palavras
despenteia os cabelos da tristeza
Vem ter comigo à hora dos lilazes
quando todas as fontes se enamoram
dos cântaros vidrados de poente
e os seduzem com motetes de água
Se vieres pelo trilho das gaivotas
ainda entontecido de mar alto
encontrarás na terra do meu corpo
as sementes da tua eternidade.
_ Rosa Lobato de Faria -
1 de agosto de 2007
O mundo de Sophia... (8)
Ali então em pleno mundo antigo
À sombra do cipreste e da videira
Olhando o longo tremular do mar
Num silêncio de luas e de trigo
( Como se a morte a dor o tempo e a sorte
Não nos tivessem nunca acontecido )
Em nossas mãos a pausa há-de poisar
Como o luar que poisa nas videiras
E em frente ao longo tremular do mar
Num perfume de vinho e de roseiras
A sombra da videira há-de poisar
Em nossas mãos e havemos de habitar
O silêncio das luas e do trigo
No instante ameaçado e prometido
E os poemas serão o próprio ar
- Canto do ser inteiro e reunido -
Tudo será tão próximo do mar
Como o primeiro dia conhecido.
- Sophia -
À sombra do cipreste e da videira
Olhando o longo tremular do mar
Num silêncio de luas e de trigo
( Como se a morte a dor o tempo e a sorte
Não nos tivessem nunca acontecido )
Em nossas mãos a pausa há-de poisar
Como o luar que poisa nas videiras
E em frente ao longo tremular do mar
Num perfume de vinho e de roseiras
A sombra da videira há-de poisar
Em nossas mãos e havemos de habitar
O silêncio das luas e do trigo
No instante ameaçado e prometido
E os poemas serão o próprio ar
- Canto do ser inteiro e reunido -
Tudo será tão próximo do mar
Como o primeiro dia conhecido.
- Sophia -
31 de julho de 2007
Da vizinhança (6)
« (...) Da Rua do Arsenal, com os armazéns de Secos e Molhados e as línguas de bacalhau à porta, a cheirar a sal e maresia, até ao Museu de Arte Antiga, viajava-se no tempo, e no jardim do Museu, depois de ter admirado a Custódia de Gil Vicente, os Painéis de Nuno Gonçalves com aquele Infante falso e enigmático e aquela gente rude, argamassa de povo e de reis como no poema da Sophia, e os Biombos Nambam com os portugueses desembarcando nos japoneses, ficava-se ensimesmado com tanta grandeza e tanta história e tanta coragem e tanta raça, deixando a bica escaldada a arrefecer e o cigarro a queimar os dedos. Fumava-se, naquele tempo. »
- Clara Ferreira Alves - para continuar a ler aqui!
- Clara Ferreira Alves - para continuar a ler aqui!
O silêncio da "Lanterna mágica"...
"A morte veio-lhe calma e docemente", disse Eva Bergman, sem precisar a causa e a hora exacta da morte do cineasta.
Ingmar Bergman deixou-nos aos 89 anos de idade. Ficou o silêncio...
Ingmar Bergman deixou-nos aos 89 anos de idade. Ficou o silêncio...
29 de julho de 2007
Cântico Negro
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha Mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui!" ?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui!"
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
- José Régio -
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha Mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui!" ?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui!"
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
- José Régio -
Subscrever:
Mensagens (Atom)