20 de junho de 2011

Afinal o que importa é não ter medo.

Pastelaria

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura


Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio


Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante


Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos
frente ao precipício
e cair verticalmente no vício


Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola


Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come


Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!


Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo 

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

- Mário Cesariny -