7 de setembro de 2007

E ficou o silêncio...

Un angello nel blue.... La voce di Luciano riecheggerà nell'eternità...

Silenciou-se o Grande Maestro... restam-nos as memórias e os ecos da sua voz!

Ave Maria de Schubert - Luciano Pavarotti

Granada - Luciano Pavarotti

O sole mio - Luciano Pavarotti

Até que a voz nos doa...

Por sugestão do meu maninho, Pedrito, El Mariachi, aqui ficam as palavras do grande Rui Zink:

"Sou bruto, bem sei. Bruto nasci, bruto morrerei. Pedi-lhe um cigarro. Ele não tinha. Pedi a outro amigo. Ele tinha mas (lamentava) só tabaco de enrolar. Exultei: «Tabaco de enrolar! Excelente! Chama-se a isso um charro politicamente correcto. Faz-se os mesmo gestos que para fazer um charro, mas não dá pedra! E num velório fica sempre bem uma mortalha...».
Isto não tinha nada a ver com nada, mas eram palavras, naquele momento, ajudou a conseguir aos interlocutores um vago sorriso. Fosse aquilo um espectáculo do "Levanta-te e ri", seria uma piada desastrosa. Mas esse é um dos lados bons de um velório: se queremos ser engraçados, não há grande concorrência.
Como lidar com a dor, com a perda, com o trauma , num mundo em que tudo fala só de sucessos, vitórias, golos marcados?
Não sei, sei apenas uma coisa. Falar é preciso. Falar, falar, falar. Falar com a dor. Falar da dor. Falar para esquecer a dor. Falar para lembrar a dor. Falar para lidar com a dor. Falar para não esquecer de que dor é dor. Falar, falar, falar.
Até que a voz nos doa, falar falar falar."

- Rui Zink, in Luto pela felicidade dos Portugueses -

5 de setembro de 2007

Brasil (17)


INDIVISÍVEIS

O meu primeiro amor e eu sentávamos numa pedra
Que havia num terreno baldio entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas,
Isto é, que a gente achava bobas
Como qualquer troca de confidências entre crianças de cinco anos.
Crianças...
Parecia que entre um e outro nem havia ainda separação de sexos
A não ser o azul imenso dos olhos dela,
Olhos que eu não encontrava em ninguém mais,
Nem no cachorro e no gato da casa,
Que tinham apenas a mesma fidelidade sem compromisso
E a mesma animal - ou celestial - inocência,
Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu:
Não, não importava as coisas bobas que diséssemos.
Éramos um desejo de estar perto, tão perto
Que não havia ali apenas duas encantadas criaturas
Mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,
Enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se, não sabia
Que eles levariam procurando uma coisa assim por toda a sua vida...

- Mário Quintana -

4 de setembro de 2007

Vimos chegar as andorinhas...

Vimos chegar as andorinhas
conjugarem-se as estrelas
impacientarem-se os ventos

Agora
esperemos o verão do teu nascimento
tranquilos, preguiçosos

Tão inseparáveis as nossas fomes
Tão emaranhadas as nossas veias
Tão indestrutíveis os nossos sonhos

Espera-te um nome
breve como um beijo
e o reino ilimitado
dos meus braços

Virás
como a luz maior
no solstício de Junho

- Rosa Lobato de Faria -

As nossas madrugadas...

Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito

pois suspeitas

que com ele me visto e me
defendo

É raiva
então ciume
a tua boca

é dor e não
queixume
a tua espada

é rede a tua língua
em sua teia

é vício as palavras
com que falas

E tomas-me de força
não o sendo
e deixo que o meu ventre
se trespasse

E queres-me de amor
e dás-me o tempo

a trégua
a entrega
e o disfarce

E lembras os meus ombros
docemente
na dobra dos lenços que desfazes
na pressa de teres o que só sentes
e possuires de mim o que não sabes

Despertas-me de noite
com o teu corpo

tiras-me do sono
onde resvalo

e eu pouco a pouco
vou repelindo a noite

e tu dentro de mim
vais descobrindo vales.

- Maria Teresa Horta -