7 de setembro de 2007

Até que a voz nos doa...

Por sugestão do meu maninho, Pedrito, El Mariachi, aqui ficam as palavras do grande Rui Zink:

"Sou bruto, bem sei. Bruto nasci, bruto morrerei. Pedi-lhe um cigarro. Ele não tinha. Pedi a outro amigo. Ele tinha mas (lamentava) só tabaco de enrolar. Exultei: «Tabaco de enrolar! Excelente! Chama-se a isso um charro politicamente correcto. Faz-se os mesmo gestos que para fazer um charro, mas não dá pedra! E num velório fica sempre bem uma mortalha...».
Isto não tinha nada a ver com nada, mas eram palavras, naquele momento, ajudou a conseguir aos interlocutores um vago sorriso. Fosse aquilo um espectáculo do "Levanta-te e ri", seria uma piada desastrosa. Mas esse é um dos lados bons de um velório: se queremos ser engraçados, não há grande concorrência.
Como lidar com a dor, com a perda, com o trauma , num mundo em que tudo fala só de sucessos, vitórias, golos marcados?
Não sei, sei apenas uma coisa. Falar é preciso. Falar, falar, falar. Falar com a dor. Falar da dor. Falar para esquecer a dor. Falar para lembrar a dor. Falar para lidar com a dor. Falar para não esquecer de que dor é dor. Falar, falar, falar.
Até que a voz nos doa, falar falar falar."

- Rui Zink, in Luto pela felicidade dos Portugueses -

Sem comentários: