Há uma altura, antes de acordar, em que
sonho e a realidade se confundem. Por vezes,
o sono impede que se faça essa distinção;
de outras vezes, julgamo-nos metidos
na vida sem saber que ainda não saímos
do limbo nocturno. Em todos os casos,
sentimentos e emoções sobressaltam
o corpo; movemo-nos para um e outro lado
com a angústia da dupla existência; nada
dominamos das acções que, no entanto,
sofremos como se algo nos tivesse arrancado
da cama. Durante o pequeno-almoço, pensando
nisso, já pouco resta de qualquer coisa
da noite. Nem as pessoas, nem as palavras,
nem as imagens, nos atormentam com a intensidade
de há pouco. Porém, é como se nos faltasse
alguma coisa de nós. E, durante o dia, repetimos
gestos que não sabemos a quem se dirigem;
ouvimos frases de que não percebemos
o sentido. E não sabemos, de facto,
onde encontrar uma explicação para esse
deambular entre ser
e não ser.
- Nuno Júdice -