27 de novembro de 2009

Da LUZ...











...que sempre guia as nossas vidas!!!

Da sensibilidade...

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão"

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheias de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

- Sophia de Mello Breyner -

26 de novembro de 2009

Queridíssimo Pai Natal:


Sei que és uma pessoa muito ocupada, por isso este ano resolvi facilitar-te a vida. Além disso, não sei até que ponto aí na Lapónia, à excepção da tua excepcional oficina onde trabalham afincadamente os melhores duendes do mundo, haverá mais algum sítio de jeito para fazer compras. Por isso, deixo-te aqui o link obrigatório deste Natal . Já me conheces há longos anos, sei que não terás grande dificuldade na escolha dos títulos...se preferires, podes sempre seguir o método alfabético e ir enchendo o carrinho dessa forma.

Obrigada desde já!!! Ficarei ansiosamente à espera da meia-noite do dia 25 de dezembro.
Contudo, e apesar da azáfama dessa noite, vê lá se não te esqueces do essencial: muita sáude, paz e amor   para toda a gente...sem isso, não há livros que nos valham, nem mesmo os melhores sobre Fotografia!!!


See you soon!
Beijinhos da Mar*

A página seguinte está em branco...

procuro-te no meio dos papéis escritos
atirados para o fundo do armário de vidrinhos
comias uvas no meio da página

a seguir era como se fosse noite
havia olhares que se cruzavam corpos
deambulações pela praia
era noite e alguém se aproximava

eu estava sentado passeando os dedos
pelas nódoas frescas do vinho sobre a mesa o caderno
onde de quando em quando rabiscava um rosto
e listas de nomes que não queria esquecer

paguei o vinho o pão e o queijo
levantei-me
tu cortaste-me a fuga vagarosamente preparada
pediste-me um cigarro

na outra página estávamos rindo
estendidos no pobre embarcadouro de madeira
planeávamos atravessar a noite mágica do rio

a página seguinte está em branco
mas lembro-me que te agarrei as mãos e disse:
todos os cigarros do mundo são para ti

- Al Berto -

22 de novembro de 2009

Quero abarcar o mundo...


Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.



Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.



Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.


- Clarice Lispector -