10 de outubro de 2009
Só se pode ser salvo pelo amor
A luz é tão cega
Que nunca se entrega
Só se deixa ver
Numa razão de ser
Sem sequer entender
Os olhos que a vão receber
E o rasto que fica
É uma coisa antiga
Que a gente tem pr´a dar
E só pode encontrar
Quando morrer a procurar
Salvo pelo amor
Só se pode ser salvo pelo amor
No sentido perdido ganhador
Não tem Deus nem Senhor
Esta dor
Anda à solta por aí
Que eu bem a vi
Ai, se eu pudesse parar
Se eu vos pudesse contar
Salvo pelo amor
Não existe derrota para a dor
Com o seu capital triturador
Não tem Deus nem Senhor
É simplesmente dor
Que é o que faz questão de ser
Sem entender
Que a vida toda surgiu
De um sol que nunca se viu
Nem sei se existe
Que nunca se entrega
Só se deixa ver
Numa razão de ser
Sem sequer entender
Os olhos que a vão receber
E o rasto que fica
É uma coisa antiga
Que a gente tem pr´a dar
E só pode encontrar
Quando morrer a procurar
Salvo pelo amor
Só se pode ser salvo pelo amor
No sentido perdido ganhador
Não tem Deus nem Senhor
Esta dor
Anda à solta por aí
Que eu bem a vi
Ai, se eu pudesse parar
Se eu vos pudesse contar
Salvo pelo amor
Não existe derrota para a dor
Com o seu capital triturador
Não tem Deus nem Senhor
É simplesmente dor
Que é o que faz questão de ser
Sem entender
Que a vida toda surgiu
De um sol que nunca se viu
Nem sei se existe
9 de outubro de 2009
Noções...
Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.
Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.
Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.
Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.
Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...
- Cecília Meireles -
6 de outubro de 2009
Pan
Sei que estás bem e feliz e essa certeza deixa-me feliz também. Consigo imaginar o teu sorriso de miúdo traquina, que vê sempre tudo como se fosse a primeira vez, e isso faz-me rir sozinha e enche-me de ternura e tranquilidade. Sei que também torces por mim e que estarás sempre aí, pronto para me ouvires, para me puxares as orelhas quando necessário e, sobretudo, para me lembrares que o amor existe...nós somos a prova viva disso mesmo!
Obrigada por TUDO :)
Dos amigos...
Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura
Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis
Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor
- José Tolentino de Mendonça -
Do equilíbrio da amizade...
Na amizade, muitas vezes, a distância é o lugar mais próximo e de maior proximidade, isto é, onde a presença do outro de tão inteira já não pode ser medida. Sendo um lugar cheio de saudade, esse é também um lugar feliz, porque aí sem cessar se regressa e avista. É como o movimento de quem caminha num espaço alto e estreito: é preciso separar os braços e desunir as mãos, para que possa alcançar-se o equilíbrio.
- Daniel Faria -
5 de outubro de 2009
Tornámo-nos murmurantes
lembro-me que tínhamos fome havia três dias
encostada ao mármore da mesa-de-cabeceira dormia a fotografiae o maço de português suave filtro
a escuridão não era só exterior
conhecíamo-nos pelo tacto e pelo olfacto
tornámo-nos murmurantes
e tu refulges ainda no escuro dos quartos que conhecemos
cruzámos olhares cúmplices
falámos muito não me recordo de quê
e no calor dos corpos crescia o desejo
caminhámos pela cidade
eu metia as mãos nas algibeiras
onde tacteava tudo o que guardara e possuía
um lenço uma caixa de fósforos um bloco de notas
sentia-me feliz por quase nada possuir
a imagem azulada de tuas mãos flutuava diante de mim
gesticulava para me dizer que estávamos vivos
e apaixonados
- Al Berto -
4 de outubro de 2009
Soneto
Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu própio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.
Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!
Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!
E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento
- António Botto -
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