4 de outubro de 2009

Soneto

Se, para possuir o que me é dado, 
Tudo perdi e eu própio andei perdido, 
Se, para ver o que hoje é realizado, 
Cheguei a ser negado e combatido.  

Se, para estar agora apaixonado, 
Foi necessário andar desiludido, 
Alegra-me sentir que fui odiado 
Na certeza imortal de ter vencido!  

Porque, depois de tantas cicatrizes, 
Só se encontra sabor apetecido 
Àquilo que nos fez ser infelizes!  

E assim cheguei à luz de um pensamento  
De que afinal um roseiral florido 
Vive de um triste e oculto movimento  

- António Botto -

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