8 de dezembro de 2012

So this old world must still be spinning 'round.

A passagem do tempo, o Outono, o Minho, a broa de milho e o vinho verde.














Sequeiros, Novembro de 2012


Aprendi a gostar do Outono como aprendi a gostar do Minho. Eu, ser solar, cuja alma é metade maresia, tal e qual Sophia, cujo corpo se move melhor em dias estivais e cuja pele grita por sol, calor e céu azul e límpido, fui, ao longo da minha existência, deixando-me encantar com este tempo mais frio, de dias mais curtos e escuros, de tons vermelhos e amarelos e de árvores despidas, da mesma forma que me fui apaixonando lentamente pelo Minho, um daqueles amores que chega de mansinho, sem grandes rompantes, mas que veio para ficar. 
Aprendi que, apesar do Outono significar o fim do Verão, dos dias intermináveis de praia, das melancias comidas de madrugada no alpendre, das rodas de conversa na esplanada da praça, dos gelados às dúzias, dos pés descalços e da pele livre, marcava também o regresso às aulas e ao cheiro dos livros por estrear, às tardes à lareira, aos chás quentinhos em lanches demorados, às castanhas assadas ou cozidas com erva doce e canela, aos cachecóis, casacos e camisolas de lã feitos pela avó A. e ao aconchego das casas. De tudo isto aprendi a gostar e a valorizar, num exercício semelhante ao que fui fazendo de cada vez que regressava ao Minho. Em criança, apesar das boas lembranças que guardo dos dias passados em casa dos meus avós paternos e dos passeios por paisagens minhotas, aquela terra atrofiava-me, deixava-me com uma sensação de claustrofobia, talvez fosse do excesso de verde e de vegetação, da falta de horizontes largos ou da humidade, ainda mais sentida do que no cantinho litoral que me viu nascer. Hoje, sou um bocadinho mais minhota a cada dia que passa, embora grande parte de mim mesma viva no meu Reino Maravilhoso, entre montanhas e serras, fragas e terra grossa que compõe o meu corpo, a minha carne. Hoje, o Minho ocupa um lugar muito especial no meu coração. Gosto dos vários tons de verde, das serras de vegetação intensa, das árvores entrelaçadas, dos espigueiros, do som dos riachos, da água cristalina, da pronúncia das gentes, da broa de milho, do vinho em malgas. Gosto de pertencer também ali, de já me sentir em casa. 

No passado mês de Novembro, celebramos o aniversário de duas senhoras muito especias, uma minhota e outra transmontana - 100 e 112 anos, respectivamente. Ambas com uma vida difícil, cheia de provações, mas com um espírito inquebrável e um sentido de humor invejável. No último dia do mês, a minha mãe completou 60 primaveras e é assim que eu a vejo, ainda na Primavera da vida, embora ela teime em contrariar-me. Tenho uma filha do coração com 12 anos, que me vai fazer ficar com os cabelos todos brancos antes sequer de chegar aos 33, que me desafia constantemente, levando-me quase a transpor limites que não quero jamais ultrapassar, que me faz duvidar tantas vezes da minha capacidade para vir a ser mãe - a tempo inteiro, não num regime de fins-de-semana e férias, e que me derrete com a mesma facilidade com que quase me leva à loucura. Uma filha difícil, rebelde, que veio para o meu colo com apenas com 5 meses de vida e onde sempre terá lugar. 

Hoje, nem o Outono nem o Minho, nem mesmo a passagem do tempo me angustiam como outrora. As minhas angústias são outras - para já, resta-me ir vivendo um dia de cada vez.

7 de dezembro de 2012

Provocador de espantos, homem brasileiro, alma carioca, arquitecto da vida e do mundo.

Oscar Niemeyer, 1907-2012

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Pôs-me a pensar a arquitectura pela primeira vez na vida quando, ainda muito miúda, vi um programa qualquer sobre Brasília na RTP. Fez-me ouvir com mais atenção o que os arquitectos da família (e os outros, também) diziam, a forma como desenhavam e pensavam os espaços, as formas, os materiais, as estruturas, a união, a harmonia, a luz. Levou-me a procurar saber, como dizem os baianos, a pesquisar e a ler sobre tudo aquilo que falavam e aprendi a descodificar olhando, observando e absorvendo as obras feitas. Ensinou-me a gostar da coisa bela e a procurá-la constantemente. Porque a vida é um sopro.