8 de agosto de 2009

Raúl Solnado

1929-2009

Histórias da minha vida no dia em que perdeu a Guerra...

I just want to know today...



A cantar em sintonia com a Menina Limão!

Concordo!

Exceptuando a família e os amigos mais próximos, aqueles que não pedem licença para entrar, a maioria das pessoas afasta-se da tristeza alheia como se da peste ou de uma outra qualquer doença contagiosa. Só somos socialmente aceitáveis enquanto derramamos alegria, jovialidade, sentido de humor. Uma tristeza abertamente confessada é uma debilidade, um aleijão do qual os outros acham que devemos libertar-nos o mais rapidamente possível, para que fiquemos novamente bem, isto é,  para que eles próprios  (que levam, por qualquer razão, com a nossa presença) se sintam confortáveis. 

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7 de agosto de 2009

Charisma and coolness!

Nem tu...

Aceitação

É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens

e sentir passar as estrelas

do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.

É mais fácil, também, debruçar os olhos nos oceanos
e assistir, lá no fundo, ao nascimento mundo das formas,
que desejar que apareças, criando com teu simples gesto
o sinal de uma eterna esperança

Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar,
nem tu.

Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.

- Cecília Meireles -

6 de agosto de 2009

Ando precisada de um...

Como um só momento...

Dai-me um dia branco, 
um mar de beladona 
Um movimento 
Inteiro, unido, adormecido 
Como um só momento.  

Eu quero caminhar como quem dorme 
Entre países sem nome que flutuam.  

Imagens tão mudas 
Que ao olhá-las me pareça 
Que fechei os olhos.  

Um dia em que se possa não saber.

- Sophia de Mello Breyner Andresen -

Dos abraços...


Jesse: I feel like if someone were to touch me, I’d dissolve into molecules.
Celine: So, I want to try something. 
Jesse: What? 
Celine: [hugs him] I want to see if you stay together or if you dissolve into molecules. 
Jesse: How’m I doing? 
Celine: Still here. 
Jesse: Good, I like being here.

5 de agosto de 2009

Hemorragia calculada

Às vezes
perigosamente
as veias coagulam
Não percebem:
viver é uma hemorragia calculada

- Ana Hatherly -

Ao amanhecer...

Respiro o teu corpo: 
sabe a lua-de-água ao amanhecer, 
sabe a cal molhada, 
sabe a luz mordida, 
sabe a brisa nua, 
ao sangue dos rios, 
sabe a rosa louca, 
ao cair da noite 
sabe a pedra amarga, 
sabe à minha boca.
- Eugénio de Andrade -

3 de agosto de 2009

Da liberdade...














Perdi o medo de mim.Adeus.

- Adélia Prado -

Cíclades

(evocando Fernando Pessoa)

A claridade frontal do lugar impõe-me a tua presença
O teu nome emerge como se aqui
O negativo que foste de ti se revelasse
Viveste no avesso
Viajante incessante do inverso
Isento de ti próprio
Viúvo de ti próprio
Em Lisboa cenário da vida
E eras o inquilino de um quarto alugado por cima de uma leitaria
O empregado competente de uma casa comercial
O frequentador irónico delicado e cortês dos cafés da Baixa
O visionário discreto dos cafés virados para o Tejo
(Onde ainda no mármore das mesas
Buscamos o rastro frio das tuas mãos
- O imperceptível dedilhar das tuas mãos)
Esquartejado pelas fúrias do não-vivido
À margem de ti dos outros e da vida
Mantiveste em dia os teus cadernos todos
Com meticulosa exactidão desenhaste os mapas
Das múltiplas navegações da tua ausência -
Aquilo que não foi nem foste ficou dito
Como ilha surgida a barlavento
Com prumos sondas astrolábios bússolas
Procedeste ao levantamento do desterro
Nasceste depois
E alguém gastara em si toda a verdade
O caminho da Índia já fora descoberto
Dos deuses só restava
O incerto perpassar
No murmúrio e no cheiro das paisagens
E tinhas muitos rostos
Para que não sendo ninguém dissesses tudo
Viajavas no avesso no inverso no adverso
Porém obstinada eu invoco - ó dividido -
O instante que te unisse
E celebro a tua chegada às ilhas onde jamais vieste
Estes são os arquipélagos que derivam ao longo do teu rosto
Estes são os rápidos golfinhos da tua alegria
Que os deuses não te deram nem quiseste
Este é o país onde a carne das estátuas como choupos estremece
Atravessada pelo respirar leve da luz
Aqui brilha o azul-respiração das coisas
Nas praias onde há um espelho voltado para o mar
Aqui o enigma que me interroga desde sempre
É mais nu e veemente e por isso te invoco:
"Porque foram quebrados os teus gestos?
Quem te cercou de muros e de abismos?
Quem derramou no chão os teus segredos?"
Invoco-te como se chegasses neste barco
E poisasses os teus pés nas ilhas
E a sua excessiva proximidade te invadisse
Como um rosto amado debruçado sobre ti
No estio deste lugar chamo por ti
Que hibernaste a própria vida como o animal na estação adversa
Que te quiseste distante como quem ante o quadro pra melhor ver recua
E quiseste a distância que sofreste
Chamo por ti - reúno os destroços as ruínas os pedaços -
Porque o mundo estalou como pedreira
E no chão rolam capitéis e braços
Colunas divididas estilhaços
E da ânfora resta o espalhamento de cacos
Perante os quais os deuses se tornam estrangeiros
Porém aqui as deusas cor de trigo
Erguem a longa harpa dos seus dedos
E encantam o sol azul onde te invoco
Onde invoco a palavra impessoal da tua ausência
Pudesse o instante da festa romper o teu luto
Ó viúvo de ti mesmo
E que ser e estar coincidissem
No um da boda
Como se o teu navio te esperasse em Thasos
Como se Penélope
Nos seus quartos altos
Entre seus cabelos te fiasse

- Sophia de Mello Breyner Andresen -

2 de agosto de 2009

Das possibilidades...



Nothing is impossible,
the word it self says
"I'm possible" !

-Audrey Hepburn -

Tarde demais?

Foi bonito 
O meu sonho de amor. 
Floriram em redor 
Todos os campos em pousio. 
Um sol de Abril brilhou em pleno estio, 
Lavado e promissor. 
Só que não houve frutos 
Dessa primavera. 
A vida disse que era 
Tarde demais. 
E que as paixões tardias 
São ironias 
Dos deuses desleais. 

- Miguel Torga -

Das contrariedades da vida...

Da escrita...


Não tenho conseguido escrever...sinto-me bloqueada, vazia, sem nada para dizer ou contar. Em contrapartida, tenho lido bastante. Tento beber nas palavras dos outros inspiração para mais tarde voltar a ter coragem de olhar uma folha em branco. Talvez devesse regressar à minha velhinha máquina de escrever Olivetti. Foi a melhor prenda de Natal que os meus pais me deram, tinha eu oito anos. Adorava o barulho das teclas, o pôr e tirar a folha de papel, as fitas de tinta, o rodar a manivela, o puxar para o lado...todo um conjunto de gestos que foram desaparecendo com o tempo e com o advento das novas tecnologias, mas dos quais sinto imensa falta. Talvez um dia me sente à beira-mar, com os pés dentro d'água e a minha Olivetti bem apoiada numa mesinha e vá desenrolando palavras ao ritmo das ondas do mar.