15 de janeiro de 2011

Voar num limite improvável.

Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.

- Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia (1944) -

I'm feeling like Woodstock today.

I need a hug.

Bolas para a otite, a gripe, o vírus esquisito, a febre, as dores no corpo, o nariz entupido, as dores de cabeça, as tonturas, os medicamentos, a falta de paladar e de olfacto, os lenços de papel, o termómetro, os arrepios de frio, os suores a meio da noite, os chás e as mezinhas caseiras. Estou cheia do Inverno, dos dias pequenos, da chuva, do frio, do nevoeiro cerrado, dos cachecóis, gorros, golas, luvas e afins, dos pés gelados, das mãos sempre frias, da pele gretada, do cieiro. 
Quem me conhece sabe que sou mais uma summer person. Preciso do sol, de fazer a fotossíntese, do calor, dos dias de praia, das tardes longas e das noites sem fim, dos piqueniques, dos churrascos, dos refrescos, dos gelados, das roupas leves, das talhadas de melancia em bancos de jardim, das havaianas nos pés. Quem me conhece sabe também da minha teoria de que o Outono e o Inverno deveriam ter um mês cada um - Novembro e Dezembro, por exemplo. A seguir às Festas, arrumávamos as golas altas e os casacos compridos juntamente com a árvore de Natal e o presépio e passávamos os restantes dez meses entre dias primaveris, de um calor ameno, tardes de esplanagem, muitas flores e borboletas, e dias de calor tórrido, daqueles bem preguiçosos, em que só apetece uma cama de rede, uma sombra, uma boa companhia e vontade de fazer coisa nenhuma.
Dias cinzentos deixam-me com uma neura daquelas à Budapeste (sim, qualquer dia vai constar da lista oficial de neuras e vai ser estudada nos cursos que se debruçam sobre essas matérias), o frio e a falta de sol conferem à minha tez copo de leite magro um aspecto ainda mais transparente e Janeiro, para mim, é sempre o mês mais longo do ano, pelos mais variados motivos.

Sabe bem o carinho da família e dos amigos quando estamos doentes, a sopinha da mãe, os chás no sofá, as receitas de mezinhas infalíveis que vamos experimentando para não decepcionarmos quem nos quer bem e se preocupa verdadeiramente connosco. Mas o que me apetecia mesmo neste momento era um daqueles abraços bem apertados depois de um longo dia de praia, as peles salgadas, o cheiro a maresia no cabelo e a promessa de um jantar a olhar as estrelas, depois de um bom banho (quase) gelado.

13 de janeiro de 2011

Quadrilha.

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J.Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

- Carlos Drummond de Andrade -

Sempre tive tanta pena do J.Pinto Fernandes.

A minha cabeça, por estes dias.

12 de janeiro de 2011

When to get off.

The build up
Lasted for days
Lasted for weeks
Lasted too long

Our hero
Withdrew
When there was two
He could not choose one
So there was none

Worn into the vaguely announced
Worn into the vaguely announced

The spinning top
Made a sound
Like a train
Across the valley
Fading
Oh so quiet
But constant 'til it passed
Over the ridge
Into the distances
Written on your ticket
To remind you where to stop
And when to get off

The spinning top
Made a sound
Like a train
Across the valley
Fading
Oh so quiet
But constant 'til it passed
Over the ridge
Into the distances
Written on your ticket
To remind you where to stop
And when to get off

The spinning top
Made a sound
Like a train
Across the valley
Fading
Oh so quiet
But constant 'til it passed
Over the ridge
Into the distances
Written on your ticket
To remind you where to stop
And when to get off
When to get off
When to get off
When to get off



11 de janeiro de 2011

Se escuto, eu te oiço a passada.

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

- Fernando Pessoa -

Morreram-me demasiadas pessoas nos últimos tempos. Deixei de as ver, da forma como se vêem os vivos, mas não deixei de sentir a sua presença. Elas continuam a habitar em mim, nas casas, nos objectos deixados, nas memórias e nas histórias recordadas. Continuo a falar sobre elas, numa necessidade permanente de não as transformar em fantasmas ou assuntos tabu.
Todas as noites converso em silêncio com a minha pequenina S., enquanto olho as estrelas florescentes que colei no tecto do meu quarto para a Mary Mary não sentir tanto medo do escuro, sempre que vem dormir comigo. Conversei com as minhas avós enquanto punha a mesa durante a quadra natalícia, numa repetição de gestos que tantas vezes as vi fazer. Sorrio para a F. e sei que ela também me sorri, de cada vez que olho para a J., que está cada dia mais parecida com a mãe. Sinto a M. em tudo o que o T. e a P. dizem e fazem. 
Nas casas dos meus avós, se parar e escutar o silêncio, bem quietinha, sou capaz de sentir todos aqueles que já partiram e que lá viveram ou por lá costumavam andar. Quando a Ji coze pão, quando cozinhamos naquela cozinha, quando se abre um frasco de compota de abóbora e noz, sei que eles conseguem sentir o cheiro que fica a pairar no ar e enche aquelas divisões de um aroma característico e tão familiar. 

Não tenho medo absolutamente nenhum da (minha) morte, mas morro um bocadinho por dentro de cada vez que penso na possibilidade da morte daqueles que amo. Mesmo que eles continuem a viver dentro de mim e que morrer seja apenas não ser visto.

10 de janeiro de 2011