20 de dezembro de 2009

For my...



Sabes que és das (poucas) pessoas que adquiriram o direito de me chamar de minha Mar. Sei que a nossa amizade é daquelas para sempre, por mais voltas que a vida dê e por mais que os nossos caminhos se separem, para mais à frente se voltarem a cruzar novamente. Sabemos ambas que a estrada nem sempre é em linha recta e que a paisagem por vezes é tudo menos risonha, mas por isso mesmo tudo isto vale tão a pena, precisamente por ser um desafio constante. Todos sabem o quanto és especial e uma das minhas pessoas preferidas também!

Hoje acordei com uma vontade imensa de me aninhar naquele nosso sofá manhoso da Via Luigi Ceci, a beber chá e a comer bolachas do Todis, enquanto nos riamos com as palermices do Paolo Bonolis no nosso programa favorito!


Ver mapa maior

(Sim, não resisti e li o postal antes do tempo...mas prometo que o resto da prenda só abro depois de ver passar o trenó do Pai Natal por cima da minha chaminé ^^)

18 de dezembro de 2009

My kind of crazy world


I'm sentimental
So I walk in the rain
I've got some habits
That I can't explain
Could start for the corner
Turn up in Spain
Why try to change me now

I sit and daydream
I've got daydreams galore
Cigarette ashes
There they go on the floor
I go away weekends
And leave my keys in the door
But why try to change me now

Why can't I be more conventional
People talk
People stare
So I try
But that's not for me
Cuz I can't see
My kind of crazy world
Go passing me by

So let people wonder
Let 'em laugh
Let 'em frown
You know I'll love you
Till the moon's upside down
Don't you remember
I was always your clown
Why try to change me now

Don't you remember
I was always your clown
Why try to change me
Why try to change me now



15 de dezembro de 2009

Do sorriso...


















Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso



- Eugénio de Andrade -

Da ausência...

Por muito tempo achei que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, esta ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.



- Carlos Drummond de Andrade -

Da personalidade...


14 de dezembro de 2009

...or at least trying to!



Não ser nada...


Não sei. Falta-me um sentido, um tacto
Para a vida, para o amor, para a glória...
Para que serve qualquer história,
Ou qualquer facto?

Estou só, só como ninguém ainda esteve,
Oco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes,
Mas passam sem que o seu passo seja leve.

Começo a ler, mas cansa-me o que inda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.

Não ser nada, ser uma figura de romance,
Sem vida, sem morte material, uma ideia,
Qualquer coisa que nada tornasse útil ou feia,
Uma sombra num chão irreal, um sonho num transe.


- Álvaro de Campos -

11 de dezembro de 2009

Its not like I believe in everlasting love

Dos monólogos...


I had never really known you


You called me after midnight,
must have been three years since we last spoke.
I slowly tried to bring back,
the image of your face from the memories so old.
I tried so hard to follow,
but didn't catch the half of what had gone wrong,
said "I don't know what I can save you from."

I asked you to come over, and within half an hour,
you were at my door.
I had never really known you,
but I realized that the one you were before,
had changed into somebody for whom
I wouldn't mind to put the kettle on.
Still I don't know what I can save you from.



- I Don't Know What I Can Save You From, de Kings of Convenience -

10 de dezembro de 2009

Da vida...





I'd like to rearrange your attitude to me

I'd like to walk around in your mind someday
I'd like to walk all over the things you say to me

I'd like to run and jump on your solitude
I'd like to rearrange your attitude to me

You say you just want peace and you'd never hurt anyone
You see the end before the beginning has ever begun

I would disturb your easy tranquility
I'd turn away the sad impossibility of your smile

I'd sit there in the sun of the things I like about you
I'd sing my songs and find out just what they mean to you

But most of all I'd like you to be unaware
And I'd just wander away
Trailing palm leaves behind me,
So you don't even know that I've been there 



I'd Like To Walk Around In Your Mind, de Vashti Bunyan -

9 de dezembro de 2009

Micas' Angels


Light Painting - trabalho do 5º ano do Colégio CEBES (Porto) para a disciplina de Educação Visual


Pode ser que os anjos da minha mãe (aka Micas) me ajudem a entrar no espírito natalício...que isto este ano está complicado!

Se o Fado podia viver sem a Carminho?




Podia. Mas não era a mesma coisa.

8 de dezembro de 2009

You do me good


You made me forget about
Have, want and exert
And all of a sudden i feel proud
For being without saying a word
You made me forget about
Past and pain
Time you washed out
Like a soft sudden summer rain

You do me good
You do me
So good you made me forget about
Hmmm

You made me forget about
Have, want and exert
An all of a sudden i found out
Oh it's beautiful the way you wear your shirt
You do me good you made me forget about
Hmmm

- Forget about, de Sibylle Baier -

Do regresso...


















À minha volta já anda tudo (quase) histérico. Têm sido dias complicados, em que várias vezes took a stroll down memory lane...e agora isto. Não há coração que aguente!

Das lembranças...




...se fosse assim tão fácil arrumar o coração.

Sou secreta por natureza...



Se tudo existe é porque sou.
Mas por que esse mal estar?
É porque não estou vivendo do único modo
que existe para cada um de se viver e nem sei qual é.
Desconfortável.
Não me sinto bem.
Não sei o que é que há.
Mas alguma coisa está errada e dá mal estar.
No entanto estou sendo franca e meu jogo é limpo.
Abro o jogo.
Só não conto os fatos de minha vida:
sou secreta por natureza.
O que há então?
Só sei que não quero a impostura.
Recuso-me.
Eu me aprofundei mas não acredito em mim porque meu 
pensamento é inventado.


- Clarice Lispector -

7 de dezembro de 2009

6 de dezembro de 2009

Das decisões...


Do destino...

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja:
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.

Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.

Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.



- Ricardo Reis -

5 de dezembro de 2009

Hoje fiquei blue...


Come over to the window, my little darling,
I'd like to try to read your palm.
I used to think I was some kind of Gypsy boy
before I let you take me home.

Now so long, Marianne, it's time that we began
to laugh and cry and cry and laugh about it all again.

Well you know that I love to live with you,
but you make me forget so very much.
I forget to pray for the angels
and then the angels forget to pray for us.

Now so long, Marianne, it's time that we began ...

We met when we were almost young
deep in the green lilac park.
You held on to me like I was a crucifix,
as we went kneeling through the dark.

Oh so long, Marianne, it's time that we began ...

Your letters they all say that you're beside me now.
Then why do I feel alone?
I'm standing on a ledge and your fine spider web
is fastening my ankle to a stone.

Now so long, Marianne, it's time that we began ...

For now I need your hidden love.
I'm cold as a new razor blade.
You left when I told you I was curious,
I never said that I was brave.

Oh so long, Marianne, it's time that we began ...

Oh, you are really such a pretty one.
I see you've gone and changed your name again.
And just when I climbed this whole mountainside,
to wash my eyelids in the rain!

Oh so long, Marianne, it's time that we began ...



- Leonard Cohen, So long, Marianne  -


...porque alguém me fez recordar esta canção.

Fazer beicinho...













...é uma arte!

Conversa fiada...

Eu gosto de fazer poemas de um único verso.
Até mesmo de uma única palavra
Como quando escrevo o teu nome no meio da página
E fico pensando mais ou menos em ti
Porque penso, também, em tantas coisas... em ninhos.
Não sei por que vazios em meio de uma estrada
Deserta...
Penso em súbitos cometas anunciadores de um Mundo Novo
E - imagina! –
Penso em meus primeiros exercícios de álgebra,
Eu que tanto, tanto os odiava...
Eu que naquele tempo vivia dopando-me em cores, flores,
amores,
Nos olhos-flores das menininhas - isso mesmo! O mundo
Era um livro de figuras
Oh! os meus paladinos, as minhas princesas prisioneiras
em suas altas torres,
Os meus dragões
Horrendos
Mas tão coloridos...
E - já então - o trovoar dos versos de Camões:
"Que o menor mal de todos seja a morte!"
Ah, prometo àqueles meus professores desiludidos que na
próxima vida eu vou ser um grande matemático
Porque a matemática é o único pensamento sem dor...
Prometo, prometo, sim... Estou mentindo? Estou!
Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...


- Mario Quintana -

And everything in between...



3 de dezembro de 2009

Um lugar de silêncio...

Há pessoas com quem é fácil deixar-se estar triste. Longe de serem muitas. Mostrar a tristeza para quem quiser ver é uma quase prostituição, parece-me. Isolada, ou entre quem não suscita por si grande interesse, é-me indiferente. Mas dentro de um núcleo mais ou menos familiar, de entre quem sabe de nós, nos conhece o suficiente para contextualizar algumas coisas, parece-me muito mal. A mim. Depois há aquelas outras em relação às quais, dentro de limites na profundidade do estado, é impraticável. Aquelas que sabemos que se nos sentem respirar muito devagar ficam muito mais rapidamente, e com outro fulgor, com uma inquietação que não as vai deixar dormir, quando até nós já fizemos os nossos rolinhos de roupa da cama de encontro ao peito, e adormecemos em paz. Então é disfarçar ou fugir, com desculpas de pouco tempo, cansaço, tudo o que justifique o estado aparente e a brevidade da conversa. Resulta. Acho eu. No extremo oposto as que sentimos que não devemos acinzentar sem deixar entrar, e não deixamos porque verdadeiramente não queremos, nunca quisemos, e sentimos que vamos arrepender se deixarmos. Ou asque não sabem interpretar, aceitar, deixar simplesmente ser, sendo também elas. Ou as que podem até levar a mal. Noves fora ficam pouquinhas. Para quem tem a sorte de as ter. Eu tenho. Ora, manual de bem lidar com tristeza alheia. Com base na experiência. Não dar demasiada importância - sinal de inteligência. É (ou pode ser) talvez a forma como me é melhor dada a entender a seriedade com que se compreende e se abraça a minha tristeza. É uma forma de dizer: eu sei, falta pouquinho. Depois passa. Em águas que se querem paradas caem como pedras preocupações desmedidas, conselhos, tentativas em voos rasos de soluções muito fáceis. Tenho cá para mim que quem está triste o quer, com alguma convicção, estar. Mesmo que seja a convicção do "não há volta a dar pelo que...". Por um pouco tempo, o suficiente. Talvez como o cansaço do dia e deixar-se dormir. Dormir é bom, é muito bom. Mas muito também desistir de tudo por um bocado. Baixar os braços, adiar, até morrer por um bocadinho. É, tenho ideia que não há nada de melhor a fazer com os tristes que deixá-los estar por um bocado.
Também não dar pouca importância, não fazer dela um fantasma.
Neste intervalinho sensível vivem fadas e duendes. Mentira, mas podiam. É o intervalo de não se estranhar a expressão, cara feia, de não estranhar poucas conversas, nem brilho plim no sorriso. E mesmo assim estar tudo bem. Muito bem. Como muito bem estão os dias de chuva no Outono. Como manchinha de tinta que a seu tempo se vai atenuando, envolvendo na transparência de outras águas, desaparecendo. Devagar, devagar, devagar… A partir do momento em que vivemos bem a nossa tristeza com alguém, toda a alegria que possa existir tem outros genes. Tudo ganha um carácter de incondicionalidade e de permanência que até então nem o desejo do que poderia ser chegava. “Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos, com os livros atrás a arder para toda a eternidade. Não os chamo, e eles voltam-se profundamente dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro. Construímos um lugar de silêncio. De paixão.” Deve ser a terceira ou quarta vez que escrevo este poema por aqui. No fim venho sempre ter a ele. Sou rebuscadinha de muitas maneiras, mas é isto.


Lido aqui , original daqui . Porque é isto mesmo, sem tirar nem pôr. E porque o poema de Herberto Helder é um dos meus preferidos.

Da memória...

Primeiro esqueci o cheiro
E ao acordar já não senti o sabor da sua boca 


Depois o corpo tornou-se memória 

Em vez de impressão
Esfumado, perdido, inglório


O seu rosto desaparecia
Ficavam quase nem os contornos


E no fim sentia só uma tristeza
De promessa feita e não tornada

- Miguel Soares-



1 de dezembro de 2009

Da infância...

Por interstícios das malas abertas de quando éramos
crianças gritam as bocas sem nenhum eco
das bonecas. Criaturas fictícias, escalpelizadas
e sem tintas, de ventre oco. Mas o mortal
lugar do coração está ainda a palpitar.
O bojo do peito de celulóide, como o meu,
pede-nos perdão pela saudade que nos devora.

- Fiama Hasse Pais Brandão -

No instante de acordar...

Procuro um adjectivo para cobrir
o teu corpo, belo como o lençol da madrugada,
e lento como o teu abrir de pálpebras
no instante de acordar. Vou buscá-lo
a um armário de sinónimos, por entre
as palavras redondas do amor. Toco
os teus lábios com as suas sílabas,
sentindo a branca humidade da noite
no leve murmúrio em que pousam
os meus olhos. E vou descobrindo a luz
das palavras que tiro de cima de ti, para
que apenas te cubra o adjectivo
que te veste, nua, nos braços
que te procuram.

- Nuno Júdice -

30 de novembro de 2009

e-books?!






Compreendo bem o FJV ...


Quase de nada místico

Não, não deve ser nada este pulsar
de dentro: só um lento desejo
de dançar. E nem deve ter grande
significado este vapor dourado,

e invisível a olhares alheios:
só um pólen a meio, como de abelha
à espera de voar. E não é com certeza
relevante este brilhante aqui:

poeira de diamante que encontrei
pelo verso e por acaso, poema
muito breve e muito raso,
que (aproveitando) trago para ti.

- Ana Luisa Amaral -

29 de novembro de 2009

Black holes and revelations



Ouvi dizer que foi muito bom!!!

Sem ti

E de súbito desaba o silêncio.


É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem lua.


Só nas minhas mãos
oiço a música das tuas.


- Eugénio de Andrade -

Finally...









...já não era sem tempo !!!

Are you nobody, too?

I'm nobody! Who are you?
Are you nobody, too?
Then there's a pair of us -don't tell!
They'd banish us, you know.

How dreary to be somebody!
How public, like a frog
To tell your name the livelong day
To an admiring bog!


- Emily Dickinson -

Da chuva que cai lá fora...


Não entendo...



Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco.
Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.



- Clarice Lispector -

27 de novembro de 2009

Da LUZ...











...que sempre guia as nossas vidas!!!

Da sensibilidade...

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão"

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheias de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

- Sophia de Mello Breyner -

26 de novembro de 2009

Queridíssimo Pai Natal:


Sei que és uma pessoa muito ocupada, por isso este ano resolvi facilitar-te a vida. Além disso, não sei até que ponto aí na Lapónia, à excepção da tua excepcional oficina onde trabalham afincadamente os melhores duendes do mundo, haverá mais algum sítio de jeito para fazer compras. Por isso, deixo-te aqui o link obrigatório deste Natal . Já me conheces há longos anos, sei que não terás grande dificuldade na escolha dos títulos...se preferires, podes sempre seguir o método alfabético e ir enchendo o carrinho dessa forma.

Obrigada desde já!!! Ficarei ansiosamente à espera da meia-noite do dia 25 de dezembro.
Contudo, e apesar da azáfama dessa noite, vê lá se não te esqueces do essencial: muita sáude, paz e amor   para toda a gente...sem isso, não há livros que nos valham, nem mesmo os melhores sobre Fotografia!!!


See you soon!
Beijinhos da Mar*

A página seguinte está em branco...

procuro-te no meio dos papéis escritos
atirados para o fundo do armário de vidrinhos
comias uvas no meio da página

a seguir era como se fosse noite
havia olhares que se cruzavam corpos
deambulações pela praia
era noite e alguém se aproximava

eu estava sentado passeando os dedos
pelas nódoas frescas do vinho sobre a mesa o caderno
onde de quando em quando rabiscava um rosto
e listas de nomes que não queria esquecer

paguei o vinho o pão e o queijo
levantei-me
tu cortaste-me a fuga vagarosamente preparada
pediste-me um cigarro

na outra página estávamos rindo
estendidos no pobre embarcadouro de madeira
planeávamos atravessar a noite mágica do rio

a página seguinte está em branco
mas lembro-me que te agarrei as mãos e disse:
todos os cigarros do mundo são para ti

- Al Berto -

22 de novembro de 2009

Quero abarcar o mundo...


Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.



Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.



Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.


- Clarice Lispector -