11 de dezembro de 2010

"Públicos são os urinóis." *



- Douro, faina fluvial (infelizmente, sem a música de L. Freitas Branco) -







* Ou a constante interpelação ao espectador, única e singular, através de um diálogo contínuo de perguntas, inquietações e dúvidas mais ou menos existênciais, num tempo compassado pelo ritmo do pensamento.

E a paixão pelo cinema roubou-me ao desporto, como este me tinha roubado à boémia. De paixão em paixão, me fiz o cineasta que hoje sou e serei até ao fim. - Manoel de Oliveira.

102 anos, hoje. Inteiro. Até ao fim. 

10 de dezembro de 2010

O estado da nação.

A problemática colocação de um mastro
Para efeitos de enfeitar a avenida
Com balões dependurados, papelinhos coloridos
Trouxe o insólito sarilho à autarquia

É que esta edilidade

Agiu em conformidade
Com o gosto colossal de dois ou três

E anunciou com muito orgulho

Muita pompa e barulho
Que o maior mastro do mundo é Português
E anunciou com muito orgulho
Muita pompa e barulho
Que o maior mastro do mundo é Português

Os olhares que se pasmavam na escalada

Não alcançavam nem o meio, nem o fim
Para muitos aquele mastro é má contenção de gastos
Para outros, ele está muito bem assim

O fascínio é humano

E o que é grande em tamanho
Glorifica sempre muito quem o fez

Isto exalta uma nação

E há que dizê-lo com razão
Que o maior mastro do mundo é Português
Isto exalta uma nação
E há que dizê-lo com razão
Que o maior mastro do mundo é Português

São Pedro perdeu as chaves

Santo António, o menino
São João foi pelos ares
E para mal dos seus azares
Não encontra o cordeirinho

Santo António anda tonto

São Pedro diz que não vê
São João caiu redondo
Caiu do céu e deu um tombo
Tropeçou não sabe em quê

Inquieta a multidão na avenida

Assobia por tanto ter de esperar
Mas nem bairros, nem bairristas, nem as tais marchas previstas
O expectante espectador viu desfilar

Quem se entende com altares

Diz que os santos populares
Não desfilam pelas ruas desta vez

Que nos falte a tradição

Ao menos valha a emoção
Que o maior mastro do mundo é Português
Que nos falte a tradição
Ao menos valha a emoção
Que o maior mastro do mundo é Português

Recuperados os santos dos seus maus-tratos

Os responsáveis resolveram confrontar
Escorregando pelo mastro, perguntaram cá em baixo
Que país levantou alto este pilar

Para a porta do vizinho

Toda a gente varreu lixo
Quando a culpa nos aponta e envolve

E quando toca ao país

Patriota é o que diz
Que o maior mastro do mundo é Espanhol

El postito Portugués

Solo es grandito en pequenez
Pero el maior mastro del mundo es Español

São Pedro perdeu as chaves

Santo António, o menino
São João foi pelos ares
E para mal dos seus azares
Não encontra o cordeirinho

Santo António anda tonto

São Pedro diz que não vê
São João caiu redondo
Caiu do céu e deu um tombo
Tropeçou não sabe em quê



 * Ou a (cada vez mais difícil e rara) capacidade de nos rirmos de nós próprios e não nos levarmos tão a sério.

Coisinhas simples que melhoram os meus dias.



Muito mais aqui.

Custou-me tanto ver o do Michael Douglas até ao fim.

9 de dezembro de 2010

Avinha-te, abifa-te e abafa-te.



Com uma manta leve, deitadinha no sofá, a beber chá de limonete com Vinho do Porto e mel. Assim se tenta curar uma gripe indesejada e que não podia ter chegado em pior altura. Tenho tanto para fazer, valhamadeus.

A parte do abifa-te foi substituída por umas valentes gargalhadas ao ouvir os meninos do vídeo. Não dizem que rir é o melhor remédio?! Eu acrescentaria: para tudo.

Stile veneziano.


Johnny Depp, in The Tourist


6 de dezembro de 2010

Evitemos a morte em doses suaves.

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade. 


- Martha Medeiros -