20 de outubro de 2010

...e dos desencontros.

Trago-te num nó na garganta, num aperto no peito. A ausência dos teus olhos nos meus olhos revela um Eu distante, vazio...Talvez por me conheceres do avesso. Por veres em mim horas estendidos na areia, decifrando os mistérios da vida, e beijos com sabor a amoras nas tardes quentes de Verão. Encontras o que os outros nem procuram. Sabes-me de cor. Entendes cada gesto. Identificas cada expressão. Os silêncios entre nós sempre disseram mais do que as palavras. Porque sempre foram verdadeiros, tão nossos e necessários como o cheiro a maresia que buscamos sempre que caminhamos para o mar.
Trago-te em cada grito contido, em cada gemido abafado. Procuro-te no poema ouvido ao cair da noite, na melodia que me chega trazida pelo vento, na tela que o pintor de rua transforma em paisagem.
Se pelo menos se pudessem vender os sentimentos...trocá-los por umas luvas que nos servissem melhor, numa dessas feiras da ladra onde se compram memórias e afectos de outras almas. Talvez te trocasse por um livro amarelado, de capa puída. Há qualquer coisa de eterno num livro sublinhado e anotado. Porque as palavras transformadas em impressões num papel ganham uma dimensão palpável e duradoura.
Ao contrário das que me disseste ao ouvido antes de desapareceres no horizonte. Essas, por mais sinceras que fossem, perderam-se por entre os dias e as noites em que chamo por ti.

Dos encontros...