30 de março de 2012

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Soube agora que uma colega minha do Secundário faleceu há um ano, pelo menos, com uma leucemia. Não sabia de nada. Nem eu, nem algumas pessoas que me são próximas e que eram mais próximas dela do que eu. Há muito que estranhávamos o seu afastamento, o silêncio, a ausência de notícias. Mas ninguém fez nada. Ah, é a vida, a rotina que nos engole, as pessoas que passam a ter vidas diferentes, a moverem-se em círculos distintos. É este tempo voraz, que voa por cima das nossas cabeças sem darmos por ele. Nada disto são desculpas, mas é este o discurso que vamos dizendo a nós mesmos, de forma a conseguirmos seguir em frente, sem que o peso da culpa seja demasiado. Nunca tive uma relação muito próxima com a J., éramos colegas, dávamo-nos bem, gostava dela, mas nunca fomos amigas chegadas. No entanto, a notícia da sua morte fez-me pensar em todas as pessoas que fui deixando para trás, consumida pela vida, até ao ponto em que nos tornamos quase estranhos, por falta de convivência e de memórias partilhadas. Fez-me pensar em todas as pessoas que se foram afastando de mim sem eu nunca procurar saber porquê, tão embrenhada que estava nos meus problemas. Será que essas pessoas não estavam com problemas maiores do que os meus? Será que não precisavam de alguém que os ouvisse, de algum tipo de ajuda? Sei que já me falharam mais vezes do que eu falhei a alguém, mas são precisamente essas que mais me doem. Saber que não estive onde e com quem deveria estar por me encontrar demasiadas vezes virada para mim mesma, para a espiral centrifugadora que são os meus dias, deixa-me com um nó na garganta e um vazio enorme. Nesta época em que todos sabemos uns dos outros através das fachadas escancaradas nas redes sociais, custa assim tanto pegar no telefone, mandar um email ou escrever uma sms a perguntar àqueles que nos são queridos se está realmente tudo bem? Se temos tempo para ver vídeos parvos e fazer likes em tudo e mais alguma coisa, também arranjamos tempo para um café, um passeio ao fim do dia, um jantar ao fim-de-semana ou um simples telefonema a dizer Como estás? Tenho saudades tuas. Não quero ter mais notícias destas, com mais de um ano decorrido, a meio de um dia de trabalho. E quero acreditar que a J. não morreu sozinha e que teve ao seu lado, até ao último minuto, pessoas que a amavam verdadeiramente.

2 comentários:

Miss Lee disse...

é preciso passar a barreira do ecrã!! tou ctg!queres ver? que tak bebermos um copo uma destas noites no porto... tipo, quarta ou quinta? :)

Mar* disse...

Pois olha, parece-me uma excelente ideia (fiquei tão triste por ter falhado a Feist, mais ainda depois de ler os teus relatos!).
Quarta ou quinta, you choose ;)