26 de fevereiro de 2014

Hasta siempre, Paco!



O meu primo Miguel lembrava hoje no Facebook, na sua homenagem a Paco de Lucia, as viagens que fez em criança, entre o Porto e Vimioso com os pais e a irmã, a ouvi-lo, ininterruptamente. Na época achava uma tortura, entediando-se no banco de trás com a Inês ao longo das várias horas de viagem. Mais tarde, uns anitos mais velho e já aprendiz de guitarra, veio a aperceber-se do génio maior que é Paco e hoje despediu-se de um dos seus mestres. Emocionei-me com o seu relato e sei da sinceridade das suas palavras. Também eu conto com muitas viagens Marão acima, Marão abaixo, ainda pela estrada antiga - ou seja, o dobro do tempo - a ouvir a guitarra única do mestre. Ao contrário dos meus primos, nunca me entediou. O som mágico que saía daquelas cordas mexe tanta comigo hoje como na altura. 
Guardo algures uma cassete velinha, gravada por mim, gasta por tantas horas de uso. Eram noventa minutos da guitarra do Paco intercalada com a voz dos três tenores. Ouvi-a vezes sem conta a caminho de Trás-os-Montes, no carro, e no meu walkman, durante passeios por montes e vales ou uma simples volta à vila. Sempre me pareceu que aqueles quatro, entre outros, encaixavam perfeitamente na minha geografia sentimental, a nordeste do país, bem lá no alto. 
Lembro-me da emoção da Andrea da Noel, ainda tão menininha, ao ouvi-los, numa viagem entre Vimioso e Miranda do Douro. Sinto um nó tão grande na garganta e no peito, mas é uma sensação boa, dizia com os olhos mareados, sem nunca desviar o olhar das estrelas. Era o início de uma noite memorável, que culminou já na madrugada do dia seguinte, com uma açorda alentejana servida no alguidar verde de plástico da avó Aninhas, o único suficientemente grande para albergar o repasto tardio de doze saudáveis malucos, que antes andaram a saber de coentros pela vizinhança - salvou-nos a Maria Angelina e a horta da tia Maria, passava já das duas da manhã. Nessa noite de Verão, uma daquelas noites de lua cheia e céu estrelado como só é possível encontrar em Trás-os-Montes (bem sei que as há igualmente bonitas noutros sítios, mas aquele é o meu céu, será sempre mais especial), ouvimos a cassete infinitas vezes, cantando juntamente com os tenores e fazendo um silêncio absoluto sempre que soava a guitarra de Paco. 

Hoje queria estar sob o meu céu, de preferência estrelado, segurando o nó na garganta e o aperto no peito, ouvindo unicamente os teus acordes, Paco. Porque a tua guitarra soará sempre de forma especial no silêncio daqueles montes.

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