28 de setembro de 2013

De repente, estamos de novo todos no Vale, sentados na manta verde da avó A.,



a tia E. assobia baixinho enquanto o tio M. toca mais uma guitarrada. O avô C. vai perguntando se não nos esquecemos de pôr o melão a refrescar, a J. corta a bola de carne em fatias generosas, a mãe prepara a cafeteira para mais uma rodada de café, o pai ainda fuma e nós chagamos-lhe a paciência por causa disso. Ouvimos pela milésima vez as mesmas histórias e não nos importamos com isso, comemos coquinhos e almendrados com o café e vamos ensaiando baixinho a Samaritana, plebeia de Sicar, sabendo que todos irão ficar com os olhos marejados e que a voz do tio M. tremerá ao cantar: de tarde quando foste encontrá-lo só, morto de sede junto à fonte de Jacob, com uma precisão de relógio suíço. 

A avô e o avô teimam em decidir qual a melhor sombra, se a do castanheiro ou a das duas oliveiras-gémeas. O sol começa lentamente a pôr-se por detrás dos montes e ouve-se o chilrear dos pássaros no beiral do telhado da casa em ruínas. 

Eu acordo. Lá fora chove a potes e a trovoada desperta-me para mais um dia cinzento. Ainda me alimento de saudades, embora respire o presente como quem tenta abarcar o mundo inteiro num só dia. 

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