26 de novembro de 2010

A arte de ser feliz


 Roma - Julho 2010

Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde, e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre as
plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crianças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Ás
vezes, um galo canta. Às vezes,
um avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.

- Cecília Meireles -

3 comentários:

Anónimo disse...

Tão verdadeiro... E são tantas as janelas que nós abrimos ao longo das nossas vidas.

Beijo,
Camila F.

Merenwen disse...

Lindas as fotos! Ficaste perto do Vaticano de novo?

Mar* disse...

É bem verdade Camila. Por vezes nem nos apercebemos da quantidade de janelas que se abrem ao longo da nossa vida.

Minha S., o nosso hotelzinho era em Termini...as fotos foram tiradas do Castel Sant' Angelo ;)

Beijo para as duas e bom resto de fim-de-semana*