4 de outubro de 2013

Ágape

Douro - Verão 2013


" A consciência é autónoma e cada um deve obedecer à própria consciência. (...) Cada um tem a sua ideia de Bem e de Mal e deve escolher seguir o Bem e combater o Mal como lhe dirá a consciência. Bastaria isso para melhorar o mundo.”

“Nós sempre fomos uma minoria mas o tema de hoje não é esse. Pessoalmente, penso que ser uma minoria seja até uma força. Devemos ser uma semente de vida e de amor e a semente é uma quantidade infinitamente mais pequena do que a massa de frutos, de flores e de árvores que dela nascem. Penso já ter dito que o nosso objectivo não é o proselitismo mas a escuta das necessidades, dos desejos, das desilusões, dos desesperos, da esperança. Devemos devolver a esperança aos jovens, ajudar os velhos, abrir para o futuro, difundir o amor. Pobres entre os pobres. Devemos incluir os excluídos e anunciar a paz. O Vaticano II, inspirado pelo Papa João e por Paulo VI, decidiu olhar o futuro com um espírito moderno e abrir-se à cultura moderna. Os padres conciliares sabiam que abrir-se à cultura moderna significava um ecumenismo religioso e o diálogo com os não-crentes. Depois disso foi feito muito pouco nessa direcção. Eu tenho a humildade e a ambição de o querer fazer.”

“Não me dirigi somente aos católicos mas a todos os homens de boa vontade. Disse que a política é a primeira das actividades civis e tem um campo de acção próprio que não é o da religião. As instituições políticas são laicas por definição e operam em esferas independentes. Isto foi dito por todos os meus predecessores, pelo menos de há uns anos para cá, ainda que com acentos diversos. Creio que os católicos empenhados na política têm dentro de si os valores da religião mas têm também uma consciência e uma competência para actuar. A Igreja não ultrapassará o âmbito de exprimir e difundir os seus valores, pelo menos enquanto eu estiver aqui.”

“Quase nunca foi assim. Frequentemente a Igreja como instituição foi dominada pela dimensão temporal e muitos dos seus membros, incluindo altos expoentes, têm ainda este modo de sentir.(...)"

"(...) Verificamos como na sociedade e no mundo em que vivemos o egoísmo aumentou muito em comparação com o amor pelos outros e os homens de boa vontade deverão trabalhar, cada um segundo as suas forças e competências, para que o amor de uns pelos outros aumente a fim de igualar e, quem sabe, superar o amor de si mesmo.”

"(...) Pessoalmente penso que o assim chamado liberalismo selvagem não faz senão tornar os fortes mais fortes, os débeis mais débeis e os excluídos mais excluídos. É necessária uma grande liberdade, uma total ausência de discriminação e demagogia, e muito amor. São necessárias regras de comportamento e também, se for necessário, intervenções directas do Estado para corrigir as desigualdades mais intoleráveis.”

“Mas é impossível resistir a um mês e meio de exercícios espirituais” 

“Falaremos também do papel das mulheres na Igreja. Recordo-lhe que Igreja [a palavra] é feminino.”


“Eu não falaria, nem mesmo para quem crê, em verdade ‘absoluta’, no sentido de que o absoluto é aquilo que é desvinculado, aquilo que não tem relação – defende o Pontífice. Ora, a verdade, segundo a fé cristã, é o amor de Deus por nós em Jesus Cristo. Portanto, a verdade é uma relação! Tanto é verdade que cada um de nós a capta, a verdade, e a expressa a partir de si mesmo: a partir da sua história e cultura, a partir da situação em que vive, etc. Isso não significa que a verdade é variável e subjetiva. Pelo contrário, significa que ela se nos dá sempre e somente como um caminho de vida”.




Ou, como diria o meu pai: este Papa Francisco! 

3 de outubro de 2013

Was it a vision, or a waking dream?



Fled is that music:—Do I wake or sleep?

Ode to a Nightingale, de John Keats, por Benedict Cumberbatch. Era capaz de ouvir dizer poesia assim o dia todo.

28 de setembro de 2013

El cielo tiene el color de la infancia muerta*










Porto - Setembro 2013

*Alejandra Pizarnik

De repente, estamos de novo todos no Vale, sentados na manta verde da avó A.,



a tia E. assobia baixinho enquanto o tio M. toca mais uma guitarrada. O avô C. vai perguntando se não nos esquecemos de pôr o melão a refrescar, a J. corta a bola de carne em fatias generosas, a mãe prepara a cafeteira para mais uma rodada de café, o pai ainda fuma e nós chagamos-lhe a paciência por causa disso. Ouvimos pela milésima vez as mesmas histórias e não nos importamos com isso, comemos coquinhos e almendrados com o café e vamos ensaiando baixinho a Samaritana, plebeia de Sicar, sabendo que todos irão ficar com os olhos marejados e que a voz do tio M. tremerá ao cantar: de tarde quando foste encontrá-lo só, morto de sede junto à fonte de Jacob, com uma precisão de relógio suíço. 

A avô e o avô teimam em decidir qual a melhor sombra, se a do castanheiro ou a das duas oliveiras-gémeas. O sol começa lentamente a pôr-se por detrás dos montes e ouve-se o chilrear dos pássaros no beiral do telhado da casa em ruínas. 

Eu acordo. Lá fora chove a potes e a trovoada desperta-me para mais um dia cinzento. Ainda me alimento de saudades, embora respire o presente como quem tenta abarcar o mundo inteiro num só dia. 

27 de setembro de 2013

Peregrina de mí, he ido hacia la que duerme en un país al viento.

Caminos del espejo

I
Y sobre todo mirar con inocencia. Como si no pasara nada, lo cual es cierto.

II
Pero a ti quiero mirarte hasta que tu rostro se aleje de mi miedo como un pájaro del borde
filoso de la noche.

III
Como una niña de tiza rosada en un muro muy viejo súbitamente borrada por la lluvia.

IV
Como cuando se abre una flor y revela el corazón que no tiene.

V
Todos los gestos de mi cuerpo y de mi voz para hacer de mí la ofrenda, el ramo que abandona
el viento en el umbral.

VI
Cubre la memoria de tu cara con la máscara de la que serás y asusta a la niña que fuiste.

VII
La noche de los dos se dispersó con la niebla. Es la estación de los alimentos fríos.

VIII
Y la sed, mi memoria es de la sed, yo abajo, en el fondo, en el pozo, yo bebía, recuerdo.

IX
Caer como un animal herido en el lugar que iba a ser de revelaciones.

X
Como quien no quiere la cosa. Ninguna cosa. Boca cosida. Párpados cosidos. Me olvidé.
Adentro el viento. Todo cerrado y el viento adentro.

XI
Al negro sol del silencio las palabras se doraban.

XII
Pero el silencio es cierto. Por eso escribo. Estoy sola y escribo. No, no estoy sola.
Hay alguien aquí que tiembla.

XIII
Aun si digo sol y luna y estrella me refiero a cosas que me suceden. ¿Y qué deseaba yo?
Deseaba un silencio perfecto.
Por eso hablo.

XIV
La noche tiene la forma de un grito de lobo.

XV
Delicia de perderse en la imagen presentida. Yo me levanté de mi cadáver, yo fui en busca de quien soy.
Peregrina de mí, he ido hacia la que duerme en un país al viento.

XVI
Mi caída sin fin a mi caída sin fin en donde nadie me aguardó pues al mirar quién me aguardaba
no vi otra cosa que a mí misma.

XVII
Algo caía en el silencio. Mi última palabra fue yo pero me refería al alba luminosa.

XVIII
Flores amarillas constelan un círculo de tierra azul. El agua tiembla llena de viento.

XIX
Deslumbramiento del día, pájaros amarillos en la mañana. Una mano desata tinieblas, una mano arrastra
la cabellera de una ahogada que no cesa de pasar por el espejo. Volver a la memoria del cuerpo,
he de volver a mis huesos en duelo, he de comprender lo que dice mi voz.


- Alejandra Pizarnik -

Hoje, só por ser Outono, vou chamar-te "meu amor" .