6 de outubro de 2010

Não consigo deixar de pensar...








... naquelas manhãs de chuva impiedosa de Amesterdão. Nas pessoas que teimosamente insistiam em continuar a andar de bicicleta, munidas de parkas, impermeáveis e todo o tipo de botas e galochas. Num tempo que deveria ser de Verão, manga curta e havaianas, pelo menos para quem cresceu neste cantinho da Europa à beira-mar plantado. Recordo as nossas roupas encharcadas, as mãos frias, a necessidade de uma bebida quente. Aquela manhã enfiadas no Mercado das Flores, observando atentamente cada pormenor, cada cor, comprando presentinhos para os que nos aguardavam no regresso. O ambiente acolhedor daquele cafézinho à beira do mercado, o meu corpo aquecido por um capuccino que me fez voltar ao Inverno passado em Roma. Lembro-me constantemente de tudo isto nestes últimos dias de chuva, vento, frio e temporal, em que as ruas lá fora mais parecem um espelho da minha alma, numa tentativa desesperada para não esquecer o arco-íris gigante que vimos naquela tarde.


Dizem que a seguir à tempestade vem a bonança. Acredito nisso. Da mesma forma que depois daqueles dilúvios matinais, o céu se abriu para nós, deixando o sol dar um ar da sua graça. Agarro-me à imagem daqueles miúdos sorridentes, à chuva, num carrinho de madeira atrelado à bicicleta da mãe e digo a mim mesma que é possível encontrar coisas boas no meio deste temporal constante em que tenho vivido. É apenas uma questão de saber procurar no sítio certo, de dar valor às pequenas coisas, como os tímidos raios de sol no parque, junto ao lago, reconhecer as boas oportunidades e não as deixar fugir, lutar pelo que se quer verdadeiramente e não desistir nunca. 

Dizem que a seguir à tempestade vem a bonança. Acredito nisso. Da mesma forma que acredito que há coisas que não mudam nunca. Como o abraço da minha irmã, que faz o tempo parar e me devolve sempre a mim mesma.

Amesterdão - 2010

1 comentário:

Moony disse...

também tenho saudades de tudo isso... de todos os comboios, dos supermercados, dos novos mundos, das nossas conversas, dos sorrisos, das partilhas, das bebidas quentinhas, do nosso guarda-chuva, de ter roupa a secar no quarto... Quero voltar, sis, tão depressa como andam os motorinos em Roma.

Ly*