21 de dezembro de 2012

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Pela primeira vez, em 32 anos de existência, não me apetece o Natal. Quero que chegue e que passe rápido. E isso assusta-me, não quero ser alguém a quem esta época é indiferente ou, pior ainda, um verdadeiro tormento. Não quero porque eu não sou assim, esta altura do ano sempre foi das mais ansiadas e vividas por mim e é importante e urgente que assim volte a acontecer. Mas não este Natal - este ano quero que passe a voar e que 2013 chegue logo logo, para acabar rapidamente com as festividades.

Um dos meus desejos para o novo ano que se avizinha é que o Natal entre de novo no meu coração, que a vida se ajeite de forma a que os meus dias sejam mais tranquilos e que essa serenidade me devolva a mim mesma. Só assim poderei voltar a viver esta época com a intensidade e profundidade que sempre me fez sentido.

Deixo-vos uma das canções que mais gostava de cantar em criança e que ainda hoje me transporta imediatamente para um lugar de corações cheios e quentes:



Um bom Natal para todos e um novo ano cheio de tudo aquilo que sonharem para as vossas vidas. Voltamos a encontrar-nos em Janeiro. Fiquem bem!

17 de dezembro de 2012

O pássaro-esperança

Hope is the thing with feathers
That perches in the soul,
And sings the tune without the words,
And never stops at all,

And sweetest in the gale is heard;
And sore must be the storm
That could abash the little bird
That kept so many warm.

I've heard it in the chillest land
And on the strangest sea;
Yet, never, in extremity,
It asked a crumb of me.


- Emily Dickinson -

13 de dezembro de 2012

Wake-up call.


Por vezes, é preciso dar de cara com algo assim no mural do FB de uma amiga para conseguir racionalizar tudo o que tenho vindo a sentir nos últimos tempos, parar, respirar fundo e seguir em frente, sabendo que o meu coração está certo, a minha cabeça no seu devido lugar e que o que me falta é apenas uma boa dose de coragem. 

...

Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.

- Sophia de Mello Breyner Andresen -

8 de dezembro de 2012

So this old world must still be spinning 'round.

A passagem do tempo, o Outono, o Minho, a broa de milho e o vinho verde.














Sequeiros, Novembro de 2012


Aprendi a gostar do Outono como aprendi a gostar do Minho. Eu, ser solar, cuja alma é metade maresia, tal e qual Sophia, cujo corpo se move melhor em dias estivais e cuja pele grita por sol, calor e céu azul e límpido, fui, ao longo da minha existência, deixando-me encantar com este tempo mais frio, de dias mais curtos e escuros, de tons vermelhos e amarelos e de árvores despidas, da mesma forma que me fui apaixonando lentamente pelo Minho, um daqueles amores que chega de mansinho, sem grandes rompantes, mas que veio para ficar. 
Aprendi que, apesar do Outono significar o fim do Verão, dos dias intermináveis de praia, das melancias comidas de madrugada no alpendre, das rodas de conversa na esplanada da praça, dos gelados às dúzias, dos pés descalços e da pele livre, marcava também o regresso às aulas e ao cheiro dos livros por estrear, às tardes à lareira, aos chás quentinhos em lanches demorados, às castanhas assadas ou cozidas com erva doce e canela, aos cachecóis, casacos e camisolas de lã feitos pela avó A. e ao aconchego das casas. De tudo isto aprendi a gostar e a valorizar, num exercício semelhante ao que fui fazendo de cada vez que regressava ao Minho. Em criança, apesar das boas lembranças que guardo dos dias passados em casa dos meus avós paternos e dos passeios por paisagens minhotas, aquela terra atrofiava-me, deixava-me com uma sensação de claustrofobia, talvez fosse do excesso de verde e de vegetação, da falta de horizontes largos ou da humidade, ainda mais sentida do que no cantinho litoral que me viu nascer. Hoje, sou um bocadinho mais minhota a cada dia que passa, embora grande parte de mim mesma viva no meu Reino Maravilhoso, entre montanhas e serras, fragas e terra grossa que compõe o meu corpo, a minha carne. Hoje, o Minho ocupa um lugar muito especial no meu coração. Gosto dos vários tons de verde, das serras de vegetação intensa, das árvores entrelaçadas, dos espigueiros, do som dos riachos, da água cristalina, da pronúncia das gentes, da broa de milho, do vinho em malgas. Gosto de pertencer também ali, de já me sentir em casa. 

No passado mês de Novembro, celebramos o aniversário de duas senhoras muito especias, uma minhota e outra transmontana - 100 e 112 anos, respectivamente. Ambas com uma vida difícil, cheia de provações, mas com um espírito inquebrável e um sentido de humor invejável. No último dia do mês, a minha mãe completou 60 primaveras e é assim que eu a vejo, ainda na Primavera da vida, embora ela teime em contrariar-me. Tenho uma filha do coração com 12 anos, que me vai fazer ficar com os cabelos todos brancos antes sequer de chegar aos 33, que me desafia constantemente, levando-me quase a transpor limites que não quero jamais ultrapassar, que me faz duvidar tantas vezes da minha capacidade para vir a ser mãe - a tempo inteiro, não num regime de fins-de-semana e férias, e que me derrete com a mesma facilidade com que quase me leva à loucura. Uma filha difícil, rebelde, que veio para o meu colo com apenas com 5 meses de vida e onde sempre terá lugar. 

Hoje, nem o Outono nem o Minho, nem mesmo a passagem do tempo me angustiam como outrora. As minhas angústias são outras - para já, resta-me ir vivendo um dia de cada vez.

7 de dezembro de 2012

Provocador de espantos, homem brasileiro, alma carioca, arquitecto da vida e do mundo.

Oscar Niemeyer, 1907-2012

          foto @


Pôs-me a pensar a arquitectura pela primeira vez na vida quando, ainda muito miúda, vi um programa qualquer sobre Brasília na RTP. Fez-me ouvir com mais atenção o que os arquitectos da família (e os outros, também) diziam, a forma como desenhavam e pensavam os espaços, as formas, os materiais, as estruturas, a união, a harmonia, a luz. Levou-me a procurar saber, como dizem os baianos, a pesquisar e a ler sobre tudo aquilo que falavam e aprendi a descodificar olhando, observando e absorvendo as obras feitas. Ensinou-me a gostar da coisa bela e a procurá-la constantemente. Porque a vida é um sopro.

22 de novembro de 2012

Em dia de acção de graças,



deparo-me com este filme. Estava na minha must see list há já muito tempo, mas por um motivo ou por outro acabou sempre por ser deixado para mais tarde. Até ao momento certo, hoje, à hora do almoço. E dei graças por tanta coisa enquanto as lágrimas me escorriam pelo rosto ao longo do filme. Agradeci, acima de tudo, essas mesmas lágrimas e o facto de ter conseguido sorrir no final. Um sorriso cúmplice, de quem entendeu tudo.

13 de novembro de 2012

S.Martinho


A mesa enfeitada pelas mãos da Micas, com as camélias, as romãs e os coelhos da avó A.. A lareira acesa, a A. de vestido de fazenda e botas castanhas. Fêveras ao almoço e memórias de outros tempos desfiadas por cada um de nós, numa tentativa de resgatar momentos e pessoas que nos fazem falta, tanta falta. De repente, tínhamos de novo ao nosso lado o tio J. a beber o seu vinho tinto num copo pequenino, como ele tanto gostava; a avó A. ajeitava os pratos, os talhares e as flores, para que tudo estivesse perfeito; o tio A. desapertava o cinto disfarçadamente para melhor acomodar a broa molhada na travessa das fêveras; a tia E. assobiava baixinho uma canção do Tony de Matos e o avô C. reclamava da política, do futebol, do tempo e do tempero da comida que tanta labuta dera na cozinha a quem sempre comanda as panelas lá em casa.


Da incontrolável passagem do tempo e da nossa finitude, o que mais me custa é saber que há coisas que os mais novos da família nunca irão viver, pessoas a quem nunca conhecerão o cheiro e o colo, lugares que nunca mais serão como os conheci, momentos que, por tudo isto, não se repetirão jamais. 


Bem sei que é a lei da vida e que a mesma não pára. Tudo tem o seu tempo e novos tempos surgem a cada dia. Há que reinventar tradições, criar novas memórias e procurar transmitir aos que agora vão chegando esse legado de afectos que também os constituem. Essa é, aliás, a melhor forma de honrar todos os que já partiram - mantê-los vivos nos corações dos que ficam, fiéis à sua verdade, sem endeusamentos.


Seguir em frente. Desbravar o futuro com lanternas de papel e garrafas de plástico reutilizadas. Resgatar a infância em menos de meia-hora, entre tesouras e lápis de cor. Recuar a um tempo em que era eu quem usava tranças, vestidos de fazenda e dedos sempre rabiscados. 


Produzir sorrisos rasgados e olhos brilhantes pela magia das coisas simples, pelo calor de uma vela acesa numa noite escura e fria. Ensinar cantigas numa língua estranha a quatro anos e meio de gente, criatura bilingue, que ficou a achar que eu conheço todas as línguas do mundo, como as fadas.


Percorrer os corredores que nos viram crescer a todos, descer e subir as escadas, testar rapidamente a temperatura do jardim e regressar a casa, que as gripes ainda não estão completamente curadas e há mais festejos anunciados para os próximos dias. Datas importantes no calendário dos afectos. Dias de memórias felizes, como espero que venham a ser estas pequenas memórias que teimo em semear na nossa pequena feiticeira (a fase princesa deu lugar à descoberta do mundo fantástico e da magia).


Domingo, apesar de tudo, foi um dia iluminado. Por ela, para ela. Para todos nós. No final da noite, comeram-se castanhas assadas com mel e manteiga e aqueceu-se a alma com licor de hortelã.

25 de outubro de 2012

Um dia de cada vez.





Porto, 24 de Outubro de 2012

É a única maneira de conseguir seguir em frente. Abraçar um dia de cada vez. Absorver apenas as coisas boas que, mesmo nos dias mais negros, sempre acontecem. Porque, de outra forma, caímos no abismo. E como tenho andado lá perto ultimamente.

23 de outubro de 2012

I flow. I am.

Quiet friend who has come so far,
feel how your breathing makes more space around you.
Let this darkness be a bell tower
and you the bell. As you ring,

what batters you becomes your strength.
Move back and forth into the change.
What is it like, such intensity of pain?
If the drink is bitter, turn yourself to wine.

In this uncontainable night,
be the mystery at the crossroads of your senses,
the meaning discovered there.

And if the world has ceased to hear you,
say to the silent earth: I flow.
To the rushing water, speak: I am.
 
- Rainer Maria Rilke, Sonnets to Orpheus -
 

* Há poemas que voltam a cruzar o nosso caminho na hora certa.

Just ♥ him.

19 de outubro de 2012

Deixar a luz entrar.





Porto, hoje

Dias cinzentos, estes que vivemos.


Amor como em casa *
 
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

- Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde" -


* Este poema, sempre este poema. Para sempre.

12 de outubro de 2012

Wishlist


Quanto mais olho para esta fotografia, mais o olhar me foge para os pés do senhor. O homem tinha bom gosto. 

Está decidido, quero uns botins iguais aos do Mark Twain!

This ain't no way to be


 Stuck between my shadow and me.

11 de outubro de 2012

Comprovado.


Comidos que estão os primeiros dióspiros da época, posso afirmar que não existe melhor fruto in the whole wide world! (tudo bem que ainda não provei todos os frutos à face da terra, mas mesmo assim.)

He Wishes For The Cloths Of Heaven

HAD I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.


- W. B. Yeats -

A falta que me faz





Nordeste transmontano - Agosto de 2012

este céu, esta luz e este chão.

1 de outubro de 2012

Superfantástico


Qualquer criança deveria ter direito a, pelo menos uma vez na vida, andar numa roda gigante de romaria,


lambuzar-se com um algodão doce quase do tamanho dela


e dançar no adro da igreja.

Assim, com as melhores amigas, amigas do peito!