26 de setembro de 2009

Era a fonte...


Ela é a fonte. Eu posso saber que é a grande fonte em que todos pensaram. Quando no campo se procurava o trevo, ou em silêncio se esperava a noite, ou se ouvia algures na paz da terra o urdir do tempo --- cada um pensava na fonte. Era um manar secreto e pacífico. Uma coisa milagrosa que acontecia ocultamente.  Ninguém falava dela, porque era imensa. Mas todos a sabiam como a teta. Como o odre. Algo sorria dentro de nós.  Minhas irmãs faziam-se mulheres suavemente. Meu pai lia. Sorria dentro de mim uma aceitação do trevo, uma descoberta muito casta. Era a fonte.  Eu amava-a dolorosa e tranquilamente. A lua formava-se com uma ponta subtil de ferocidade, e a maçã tomava um princípio de esplendor.  Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento perdeu-se e renasceu. Hoje sei permanentemente que ela é a fonte.
- Herberto Helder -

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