12 de julho de 2009

Uma indirecta confissão

Sempre evitei falar de mim, 
falar-me. Quis falar de coisas. 
Mas na seleção dessas coisas 
não haverá um falar de mim? 

Não haverá nesse pudor 
de falar-me uma confissão, 
uma indireta confissão, 
pelo avesso, e sempre impudor? 

A coisa de que se falar 
até onde está pura ou impura? 
Ou sempre se impõe, mesmo impura- 
mente, a quem dela quer falar? 

Como saber, se há tanta coisa 
de que falar ou não falar? 
E se o evitá-la, o não falar, 
é forma de falar da coisa? 

- João Cabral de Melo Neto -

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