8 de julho de 2009

Limbo nocturno...

Há uma altura, antes de acordar, em que 
sonho e a realidade se confundem. Por vezes, 
o sono impede que se faça essa distinção;
de outras vezes, julgamo-nos metidos 
na vida sem saber que ainda não saímos 
do limbo nocturno. Em todos os casos, 
sentimentos e emoções sobressaltam 
o corpo; movemo-nos para um e outro lado 
com a angústia da dupla existência; nada 
dominamos das acções que, no entanto, 
sofremos como se algo nos tivesse arrancado 
da cama. Durante o pequeno-almoço, pensando 
nisso, já pouco resta de qualquer coisa 
da noite. Nem as pessoas, nem as palavras, 
nem as imagens, nos atormentam com a intensidade 
de há pouco. Porém, é como se nos faltasse 
alguma coisa de nós. E, durante o dia, repetimos 
gestos que não sabemos a quem se dirigem; 
ouvimos frases de que não percebemos 
o sentido. E não sabemos, de facto, 
onde encontrar uma explicação para esse 
deambular entre ser 
e não ser.

- Nuno Júdice -

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