«(...)Já tive ocasião de explicar, com larga cópia de exemplos, que nada me moveria contra o Acordo se, de facto, ele acordasse alguma coisa.(...)
É precisamente porque amo a riqueza extraordinária da Língua Portuguesa, e o que as suas variantes africanas e brasileiras lhe acrescentam (porque há tantas variantes dentro do Brasil como nos países africanos de expressão portuguesa) que, à partida, me desgosta a ideia burocrática de um acordo. Se pelo menos o Acordo servisse para unificar a aprendizagem da Língua, e assim tornar igualmente acessíveis e programáticos, para as crianças das escolas, os escritores dos vários países, poderia julgá-lo útil. Mas o Acordo prevê que se mantenham as diferenças ortográficas correspondentes à "pronúncia culta" (seja lá isso o que for) de cada país. Trocando em miúdos: as grafias manter-se-ão distintas. Mais próximas, mas suficientemente distintas para tornar impossível a criação de manuais escolares universais, dentro do mundo da língua portuguesa. Até porque as diferenças abissais não são ortográficas - mas gramaticais e semânticas. O argumento da unificação da Língua para efeitos de papeladas oficiosas internacionais não colhe, por estes mesmos motivos. E que diferença faz que um documento internacional seja escrito numa qualquer variante do português? Todos entendemos a escrita do cabo-verdiano Germano Almeida, do brasileiro Ruben da Fonseca, do moçambicano Mia Couto ou do angolano Pepetela.(...)»
- Inês Pedrosa, aqui.
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