« (...)De todos os mares do Sul e do Norte nenhum se compara a este português oceano Atlântico num dia de Outono escaldante. (...)Neste dia claro, que traz à cabeça a clareza das coisas simples, um dia tão cheio de liberdade, observo os adolescentes esparsos que namoriscam, falam ao telemóvel, se empurram uns contra os outros, e vestem e despem fatos de neoprene que lhes desenham corpos de atletas. As raparigas são tão diferentes das oprimidas do meu tempo, são umas beldades em biquinis reduzidos, são altas e espadaúdas e bem alimentadas e tão livres e capazes como os rapazes saídos de um anúncio da Califórnia, com cabelos doirados por sol e surf e ombros olímpicos. Uns e outros entram e saem da água com as pranchas, indiferentes ao vento, ao adiantado da hora e da estação.
No meu tempo e no tempo da censura marcelista, tendo a revolução posto fim à minha adolescência, uma cena destas no Outono seria quase tão proibida como o dito "Outono Escaldante", um desses filmes nulos com uma actriz italiana, Alain Delon e um realizador com o óbvio nome de Valério Zurlini a encenar uma fotocópia erótica dos ensaios de Rohmer.(...)
Jamais conseguiremos explicar a estes miúdos o que foi aquilo, a supressão da razão e da vontade, a venda e o medo. Seria como pisar uma alforreca morta.»
- Clara Ferreira Alves, para continuar a ler aqui!
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